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Este livro possui 26 ensaios de economia distribuídos em cinco partes. Na primeira parte, sobre crescimento econômico, o livro começa, no capítulo 1, tentando oferecer um tratamento simples e pedagógico ao difícil assunto que é o desenvolvimento dos países. Estabelecidas as bases do entendimento desse assunto, os capítulos seguintes tratam de três temas específicos: os motivos pelos quais a Inglaterra foi a pioneira na Revolução Industrial; as visões de Malthus, Ricardo e Romer a respeito do crescimento econômico; e a importância da produtividade total dos fatores, em contraposição ao capital físico, como principal fator do desenvolvimento.
A segunda parte do livro trata de questões relativas à economia brasileira. Ela começa abordando aquilo que foi, provavelmente, o plano econômico mais desastrado da história do nosso país: a Nova Matriz Econômica. Em seguida, dois ensaios tratam do tema desigualdade econômica no contexto brasileiro — que é um dos principais males da história do país, e prejudica em muito o avanço da nossa sociedade. Se na primeira seção um ensaio tratou da produtividade total dos fatores, nesta, temos um ensaio tratando exclusivamente da nossa (má) produtividade do trabalho. A seção se encerra com uma viagem por um episódio da nossa história econômica e política, o milagre econômico.
A parte 3 trata de questões metodológicas concernentes ao mundo da pesquisa acadêmica em economia. Dois capítulos enfatizam a importância da modelagem para o avanço da ciência econômica. Outro capítulo busca rebater algumas críticas tão propagadas aos conceitos de homo economicus, racionalidade e egoísmo no contexto da economia. A seção finaliza com uma breve descrição do modelo de vício racional e como, apesar de ele parecer, à primeira vista, “ingênuo” ou “irreal”, ele foi capaz de trazer avanços a respeito do conhecimento econômico relacionado ao vício que outras teorias não seriam capazes.
A quarta parte traz seis ensaios relacionados à história do pensamento econômico: um ensaio sobre a importância do filósofo (e gênio) Frank Ramsey para a economia; um sobre a história da microeconomia; um a respeito das origens da onipresente função Cobb-Douglas; um sobre a Cliometria e a Nova Economia Institucional; um ensaio introdutório à Escola da Escolha Pública (Public Choice School); e, por fim, um pequeno texto em homenagem à Harry Markowitz, o pai das finanças modernas.
A última parte traz um compilado de assuntos variados (por isso seu nome, “miscelânea”). O primeiro ensaio da seção traz dois fatos aparentemente não-relacionados (a vestimenta de Átila, o Huno e os gastos excessivos em medicamentos) e os costura mediante um ferramental da economia, a teoria da sinalização. O segundo ensaio trata dos impactos (econômicos, sobretudo) de longo prazo da escravidão e do racismo. Ele mostra como a escravidão institucional do passado gerou um caminho de dependência difícil de fugir hoje em dia. O terceiro tece a respeito de duas responsabilidades, a fiscal e a social. Será que existe um dilema entre elas? O texto irá argumentar que não: ambas as responsabilidades são não apenas compatíveis, como, na verdade, complementares — a responsabilidade social não pode existir sem a fiscal. O quarto ensaio descreve a explicação ortodoxa da Grande Depressão, elaborada por Friedman et al. Por questão de espaço, o texto não busca refutar outras explicações (mas o leitor inteligente pode fazer por si só a contraposição entre as explicações e analisar qual delas faz mais sentido). O quinto ensaio traz um conjunto de estudos que tratam a respeito da discriminação (de raça, de gênero e outras) a partir de um ponto de vista econômico. O sexto ensaio é uma “ode” à Economia da Saúde: ele introduz essa temática e analisa quais são os avanços e dilemas relativos à área. O sétimo e último capítulo trata a respeito da importância de um Banco Central autônomo atuando sob regras claras.
A quem este livro é direcionado?
A todos. Desde leigos até doutores na matéria. Se você se interessa por economia, então este livro é para você. Talvez leigos no assunto tenham certa dificuldade em entender certas passagens. Mas o livro foi organizado de tal forma que até pessoas que não tenham conhecimento algum de economia consigam absorver grande parte do que aqui está colocado. Experts em economia poderão já saber boa parte do conteúdo presente no livro, mas mesmo eles irão aprender pelo menos algumas coisas ao lê-lo.
Quais os objetivos do livro?
Tornar os seus leitores um pouquinho mais informados a respeito da ciência magnífica que é a economia. É senso comum a ideia de que economia trata somente de finanças — bolsa de valores, investimentos e afins. Finanças é uma parte importante da economia, mas não é mais que isto: uma parte. Ao longo do livro, o leitor vai mergulhar em questões tais como os motivos pelos quais a Inglaterra foi a pioneira na Revolução Industrial, ou então quais foram as consequências econômicas da escravidão no continente americano. São todas questões que vão além das finanças. Na verdade, dentre os 26 ensaios aqui presentes, apenas um deles tangencia o assunto de finanças: o capítulo a respeito do economista que é considerado o “pai” dessa matéria, o grande Harry Markowitz.
Economia, em essência, é a ciência que investiga as consequências provenientes do fato de agentes buscarem certos fins a partir do constrangimento gerado pelos meios, que são escassos. Dado tal constrangimento, escolhas devem ser feitas: os indivíduos devem priorizar certas ações em detrimento de outras. A forma pela qual eles fazem esse elencamento de prioridades pode ser perfeitamente racional (no sentido das preferências serem transitivas e completas), ou então com racionalidade limitada (no sentido de que as escolhas são satisfatórias, mas não necessariamente ótimas), ou ainda de forma irracional, em que as escolhas são intransitivas e/ou incompletas.
De que forma isso está relacionado com aquilo que se entende costumeiramente por economia, i.e., com o gerenciamento do dinheiro? Da seguinte forma: com o dinheiro que as pessoas possuem, elas não conseguem satisfazer todas as suas preferências; assim, elas precisam gastar seu dinheiro naquilo que mais lhes convêm. Precisam, dessa forma, gerenciar seu dinheiro de forma inteligente, para maximizar suas possibilidades de escolha. A área das finanças é justamente a ciência que busca compreender quais são as melhores formas dos indivíduos alocarem seu dinheiro (seus ativos, em geral), dadas suas preferências.
Você pode pensar: pessoas comuns não conseguem satisfazer todas as suas preferências com o dinheiro que elas possuem, mas multibilionários, como Elon Musk ou Bill Gates, com certeza conseguem. Não há dúvidas de que as possibilidades de escolha de Musks da vida são muito maiores do que as do cidadão comum (nesse sentido, dinheiro é poder), mas até mesmo Elon Musk precisa priorizar escolhas, dado o orçamento limitado que possui. É bem provável que ele gostaria de construir centenas ou milhares de foguetes do modelo Starship (o maior foguete do mundo), mas a sua restrição orçamentária o impede de fazer isso. É provável também que ele gostaria de colocar uma estação de carregamento de veículos elétricos em cada esquina do mundo. Mas tais decisões não fazem sentido econômico a Musk, pois lhe trariam enormes prejuízos — prejuízos estes que ele não está disposto a incorrer, e daí se segue que até mesmo suas preferências são limitadas por restrição de dinheiro.
Então, caro leitor, agora você sabe que a economia está presente em tudo e se aplica a todas as pessoas: não há ninguém que escapa do difícil problema de privilegiar certas ações em detrimento de outras. Como colocam Alchian e Allen no seu tão brilhante quanto consagrado manual de economia, “Universal Economics” (2018, p. 3): “Desde o desanimador fiasco no Jardim do Éden, todo o mundo tem sido um lugar notável pela sua escassez de recursos, contribuindo fortemente para uma abundância de várias tristezas e pecados. As pessoas tiveram que se ajustar e se adaptar às limitações do que está disponível para satisfazer desejos ilimitados.”
Mas vamos supor que, tal como no mundo fictício de Star Trek, as pessoas vivessem em um mundo de pós-escassez, que elas não mais enfrentassem restrições de escolha sobre seu consumo. Ainda assim, algumas restrições imanentes ao universo tal como ele é ainda estariam presentes. Em primeiro lugar, você teria a restrição gerada pelo fato de ter apenas um corpo. Dessa forma, você teria que decidir onde quer estar, mesmo que possa estar em qualquer lugar que quiser. Por segundo, você teria a restrição proveniente da interação com outros indivíduos — se você quisesse tomar uma ação que dependesse da contribuição de outra pessoa (como formar um par romântico com ela), então você ainda teria a restrição de depender das decisões dessa outra pessoa.
Mas vamos fazer a suposição ainda mais forte de que você viva em um ambiente em que tais restrições sejam superadas. Tal como um ser divino, você pode estar em todos os lugares que lhe convém, e, tal como um formigueiro, todos os agentes possuem perfeita compatibilidade de objetivos. Ainda haveria a restrição mais fundamental de todas: a restrição do tempo. Mesmo você tendo super-poderes e vivendo em uma sociedade utópica, você ainda seria mortal, de modo que, mesmo que você pudesse fazer tudo, você não teria tempo de vida suficiente para fazê-lo, e assim teria que decidir entre ações conflitantes. Poderíamos esticar ainda mais esse experimento mental no qual eu estou lhe guiando e supor que fôssemos imortais, fazendo a restrição de tempo se dissolver — mas aí teríamos que supor a violação da 2ª Lei da Termodinâmica (a Lei da Entropia). Multivac, em “The Last Question”, precisou criar um universo do zero para violar tal restrição. Não vamos forçar ainda mais a mão e supor algo tão outlandish aqui.
Portanto, caro leitor, a restrição de tempo é a restrição mais fundamental que você possui. Enquanto você estiver vivo, você precisa decidir sabiamente como gastar o seu tempo. E uma coisa eu lhe garanto: o tempo que você gastará lendo este livro será um tempo extremamente bem alocado. Ao finalizá-lo, você terá a satisfação de saber que utilizou parte do seu precioso tempo em algo que valeu a pena.
Referências
ALCHIAN, A. A.; ALLEN, W. R. Universal Economics. Carmel, Indiana: Liberty Fund, Inc., 2018.
ASIMOV, I. The Last Question. Science Fiction and Philosophy: From Time Travel to Superintelligence, p. 279-289, 2016.
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