A genialidade do Plano Real

As pessoas não costumam entender o nível de genialidade do Plano Real. Provavelmente é um dos planos de estabilização mais sofisticados da história da economia mundial.

Vamos ver as opções de política naquele momento:

1) Se o governo simplesmente tentasse combater a inflação através de políticas tradicionais, contracionistas, o resultado seria uma recessão brutal, e dá pra visualizar isso dentro da própria ótica monetarista:

MV = PY

Onde:
M é a base monetária;
V é a velocidade de circulação da moeda;
P é o nível de preços;
Y é o PIB real.

Se o governo simplesmente congelasse M, P continuaria subindo durante um tempo devido ao elevado grau de indexação da economia brasileira. Admitindo V como constante e P subindo de forma autônoma, alimentado pela memória da inflação passada, o resultado seria uma queda proporcional em Y. Uma recessão. A inflação uma hora iria ceder, mas a um custo enorme no curto prazo, que provavelmente a sociedade brasileira não estava disposta a pagar.

2) Por outro lado, a opção de também congelar P no curto prazo através de políticas de controle de preços não estava mais disponível devido ao fracasso dos vários planos anteriores. Ninguém levaria outro Plano Cruzado a sério, por mais que dessa vez ele também fosse responsável com a base monetária.

3) Então os economistas do governo tiveram a ideia de produzir os efeitos de um congelamento, mas sem fazê-lo. A solução era criar uma âncora cambial e inundar o mercado com produtos importados usando reservas acumuladas anteriormente. As pessoas deixaram de reajustar seus contratos, salários e preços com base na inflação passada porque havia uma oferta de bens estrangeiros pressionando e disciplinando o mercado interno; o que minimizava os custos normais de uma desinflação em termos de produto e emprego. Absolutamente genial.

Se tem alguma coisa que o Brasil deve se orgulhar em sua história econômica é deste feito. Parabéns aos nossos economistas Gustavo Franco, Pérsio Arida, Lara Resende, Edmar Bacha, Pedro Malan e outros.

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