Por que a Modern Monetary Theory significa tirar as mãos do volante?

O nosso sistema de meta de inflação funciona como as mãos de um motorista no volante de um carro. Quando a estrada tem uma curva para a esquerda, o motorista vira o volante para a esquerda, mantendo o veículo na pista e vice-versa. Essa “mão no volante” no caso da política monetária são os mecanismos de controle de liquidez, com grande ênfase para a taxa básica de juro. Quando a inflação está querendo acelerar, o BC decide virar o volante da taxa de juro pra cima, ajustando a trajetória da inflação para que ela convirja na meta, quando a inflação dá sinais de que vai desacelerar, ele faz o oposto.

Assim como o motorista não controla a direção da estrada, o BC não controla todos os choques de oferta e demanda que a economia recebe, e que também afetam a taxa de inflação; mas ambos ainda têm um instrumento que os permite corrigir suas trajetórias.

Quando alguém diz que o governo “sempre pode financiar seu déficit expandindo base monetária”, essa pessoa está correta. Até porque isso é uma identidade contábil: o déficit operacional do setor público equivale à soma do aumento da base monetária com o aumento da dívida líquida do setor público.

O problema é que para financiar o déficit com expansão o BC precisa perder o controle da taxa de juro, ou seja, precisa tirar as mãos do volante. Exemplificando: se o Brasil decide ligar a impressora para pagar suas contas (seja usando a conta única do tesouro ou fazendo à moda antiga, via orçamento monetário), a liquidez da economia logo começaria a aumentar, derrubando a taxa de juro. Para manter o juro na meta definida pelo Copom (patamar que garante a manutenção da estabilidade de preço), o BC teria que vender mais títulos públicos, pressionando a dívida. Nesse caso, a tentativa do BC de manter o juro na meta aumentaria a dívida pública tal qual a política fiscal tradicional. O tesouro deixaria de fazer dívida de longo prazo por motivos fiscais (como faz hoje quando quer gastar mais do que arrecada), mas teria que fazer mais dívida de curto prazo por intermédio do BC para manter o juro na meta.

Para realmente financiar essa gastança com impressora, sem impactar na dívida, o Banco Central teria que simplesmente desistir de controlar a taxa de juro, tirando as mãos do volante. Na prática, o fim do regime de metas de inflação.

Você pode dirigir sem as mãos no volante? Bem, até pode, ninguém vai te impedir de fazer isso caso queira, mas o resultado óbvio é que o carro sairá da estrada. Nesse sentido, é óbvio que o governo pode financiar o que quiser expandindo base sem se importar com a dívida pública, mas de forma análoga ao exemplo anterior, isso revela falta de juízo. Não queremos que a nossa taxa de inflação saia da estrada.

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