A ausência de formalismo na economia significa o caos

O fato de que austríacos e pós-keynesianos chegam a conclusões opostas a partir de críticas ao mainstream praticamente idênticas só mostra como a falta de rigor metodológico permite chegar a qualquer conclusão que se queira.

A crítica que ambas as escolas fazem à modelagem matemática na economia é praticamente a mesma: não há como prever o comportamento humano, pois este é muito complexo. Haveria, segundo eles, uma incerteza inexorável ao estudo das relações humanas.

Ora, mas que o comportamento humano é complexo é óbvio. Esse, inclusive, é um dos motivos pelos quais a ciência econômica demorou muito tempo para evoluir e tomar corpo como uma disciplina científica. Acontece que é injustificável se deparar com tal complexidade e desistir, já de antemão, de criar qualquer tentativa de modelagem rigorosa do comportamento humano. E é exatamento isso que os heterodoxos fazem.

Ao desistir do rigor, qualquer conclusão é cabível, basta um pouco de criatividade e retórica. Por meio destes e daqueles caminhos, fulano pode chegar à conclusão de que a máxima eficiência da economia é alcançada com a extinção do Estado; outro fulano, através de outros caminhos aparentemente tão convincentes quanto, pode chegar à conclusão oposta: que só um Estado ativo e empreendedor pode desenvolver uma nação.

Um autor desdiz o que outro disse. A aderência a um ou outro ponto de vista acaba por depender da vontade e das ideologias pré-concebidas de cada pessoa. A ciência acaba virando uma guerra de egos entre prosélitos de cada escola, que se apegam fielmente àquilo que os fundadores de tais escolas escreveram.

O exemplo mais ilustrativo de como a falta de rigor metodológico leva a qualquer conclusão pré-estabelecida é a relação acadêmica entre G.L.S. Shackle e Ludwig Lachmann. O primeiro é uma referência da economia pós-keynesiana, ao passo que o segundo é da austríaca. As ideias de ambos eram quase idênticas. Para ver a semelhança entre suas ideias, leia “O Processo de Mercado na Escola Austríaca Moderna”, de Fabio Barbieri, disponível aqui.

Acontece que partindo de ideias e metodologia idênticas, eles, ou seus seguidores, chegaram a conclusões opostas a respeito de política econômica.

A ausência de formalismo na economia significa o caos.

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