1. Introdução
Se você já entrou em contato com economia já deve ter se deparado com os termos neoclássico, ortodoxo ou mainstream. Mas qual a diferença entre eles? Seriam eles equivalentes, só maneiras diferentes de identificar uma mesma coisa, ou teriam diferenças que podem até ser substanciais e que legitimem suas nomenclaturas diferenciadas?
Defenderemos que essas nomenclaturas têm sim suas diferenças, baseando-se na explicação de Colander et al [1]. Entende-se mainstream como o sistema complexo e dinâmico que constitui a fronteira da pesquisa econômica, na qual várias ideias são testadas a partir de uma mesma metodologia, ou até metodologias novas são implementadas. Ortodoxia é uma teorização feita olhando para o desenvolvimento dessa fronteira, identificando estaticamente as ideias que prevaleceram. Ou seja, ortodoxia diz respeito à identificação com a escola de pensamento dominante, que no caso é identificada geralmente como a neoclássica. Em verdade, a história é um tanto mais complicada e para um entendimento melhor do termo neoclássico se faz necessário adentrar na história do pensamento econômico para ver as diferentes escolas de pensamento que existiram e persistiram no mainstream.
2. Neoclássico x Mainstream x Ortodoxo
A Economia como área de pesquisa do conhecimento humano é um sistema complexo, e como tal ela só pode ser entendida pelo processo de mudança que a subjaz [1]. Tentar passar sua essência é reducionista e dá uma definição necessariamente estática a um processo de natureza dinâmica, uma vez que se está em constante mudança na fronteira da pesquisa econômica. Sendo assim, é mais útil caracterizar a profissão como um “conjunto diversificado de ideias, vagamente mantidas juntas por sua abordagem de modelagem para problemas econômicos” [1].
Ou nas palavras de Robert Solow: “Hoje, se você fizer a um economista mainstream uma pergunta sobre quase todos os aspectos da vida econômica, a resposta: suponha que modelemos essa situação e vejamos o que acontece […] a economia mainstream moderna consiste em pouco mais que exemplos deste processo” [2].
Mas afinal o que é a economia mainstream? E como ela se diferencia da ortodoxia, caso se diferencie?
O mainstream não diz respeito a uma escola de pensamento em específico, nem a um conjunto estático de ideias, mas justamente às ideias da fronteira da pesquisa que são assumidas e defendidas pelos indivíduos que são dominantes nas principais instituições acadêmicas, organizações e jornais num dado período. Portanto, ele é um campo mais vasto que a ortodoxia, uma vez que várias ideias estão sendo testadas por advento da metodologia mais aceita ou até novas metodologias vão sendo experimentadas.
Ortodoxia seria justamente as ideias que ficaram, então seria uma representação estática do conjunto dinâmico que representa a profissão. A ortodoxia é para os historiadores do pensamento nada mais que a escola de pensamento dominante nos grandes centros de pesquisa e aquilo que acaba sendo ensinado nos livro-textos para os graduandos e/ou pós-graduandos.
Certo, mas o que é uma escola de pensamento?
Como Ioana Negru argumenta: “Uma escola de pensamento refere-se tanto ao seu sistema de pensamento (ou seja, objeto de estudo) quanto a seus praticantes membros. Um sistema de pensamento compreende ontologia (o reino do existente e da realidade), epistemologia (o reino do conhecido e do conhecimento; o que é conhecível?), metodologia (o reino das ferramentas, mecanismos e métodos de pesquisa e estudo), ética e axiologia (o reino e hierarquia de valores) e ideologia (um sistema de ideias, noções, teorias e concepções políticas) […] Uma escola deve exibir um grau de coerência, o que implica um nível de homogeneidade interna (do sistema de pensamento) e uma lógica do sistema interno de pensamento (a lógica interna de pensamento refere-se ao argumento e ao raciocínio e é fundamentado em princípios lógicos básicos, incluindo consistência e razão suficiente). Além disso, uma escola deve ser distinta de outras tradições de pensamento” [3].
Tendo definido uma escola de pensamento, é preciso entender que essa constitui mais que um paradigma. “Escolas de pensamento compreendem paradigmas, embora os paradigmas concedam valor, importância e prestígio para as escolas de pensamento” [3]. Um exemplo para a economia seria a macroeconomia contemporânea, na qual as escolas que fazem parte do mainstream aceitam o paradigma da escolha racional, embora sejam escolas divergentes.
Então mainstream é algo amplo e diverso. Um sistema complexo de ideias sendo testadas e trabalhadas na fronteira da pesquisa sobre um mesmo método ou abordagem, mesmo que isso possa ser relativizado. Já a ortodoxia é justamente as ideias que sobreviveram ao teste do tempo, sendo caracterizadas dentro da escola de pensamento vigente, e essa escola é chamada (um tanto de maneira infeliz [4][5]) de Escola Neoclássica.
A economia neoclássica pode ser entendida de duas formas: primeiramente, como um bloco monolítico de ideias e métodos que representa a totalidade da ortodoxia. Esse termo começou a ser empregado pelos críticos heterodoxos (i.e, aqueles fora da ortodoxia), mas com o tempo foi incorporado no jargão do mainstream.
As análises da economia neoclássica partem de um individualismo metodológico que foca no comportamento otimizador de agentes racionais e bem informados. São construídos modelos cujas premissas são derivadas de maneira dedutiva a partir de um método axiomático, no qual suas previsões são testadas por técnicas econométricas.
Em segundo lugar, o termo neoclássico indica uma escola de pensamento bem específica na história do pensamento, que se consagrou como ortodoxia na sua época vigente, todavia, hoje em dia, a profissão relaxou grande parte de suas hipóteses, mesmo estas ainda servindo como fundacionais para grande parte das ideias do mainstream. Então para saber a verdadeira natureza do pensamento ortodoxo é preciso um passeio geral pela história do pensamento econômico.
3. Um panorama histórico do pensamento econômico: as diversas escolas de pensamento da economia
3.1. O pensamento econômico na Idade Antiga e na Idade Média
A teorização sistemática da economia de tal forma que ela constitua uma escola de pensamento surge apenas com o lançamento da seminal obra de Adam Smith (1723-1790) “A riqueza das nações” [6]. Mas desde os tempos antigos da humanidade existem teorizações sobre a economia, que podem ser traçadas de forma mais sistemática nas obras dos gregos da antiguidade. Como apresenta S. Todd Lowry: “não devemos esquecer o fato notável de que o nome da disciplina de economia deriva da palavra grega oikonomia. Os gregos usavam a palavra para designar uma disciplina formal que tratava de um assunto abstrato (gestão patrimonial e administração pública), uso que manteve alguma continuidade por mais de dois mil anos antes de a disciplina se tornar conhecida como economia política” [7].
Platão defendeu que uma mesma ciência deveria reger a administração seja de uma pequena cidade, seja de uma grande casa [8]. Ademais, apresentou uma teoria de divisão do trabalho, mesmo que um tanto limitada, sobre o uso eficiente das capacidades individuais na organização do Estado por advento de papéis especializados. Também sobre a divisão do trabalho, esta foi elaborada pelo teórico Xenofonte [9], discípulo de Sócrates, que entre outras coisas estudou e analisou o valor de uso comparado ao valor de troca de bens [10], enfatizou a economia de escala para o desenvolvimento econômico [11] e fez um tratado sobre organização e administração da propriedade agrícola, enfatizando o capital humano e a organização eficiente [12].
Aristóteles foi outro teórico da economia, tendo formulado claramente o conceito de utilidade marginal decrescente (que diz que os ganhos de utilidade do consumir em relação a mais uma unidade de um bem são cada vez menores) no sétimo livro de A Política [13], além de discorrer sobre a noção de um preço justo no livro 5 da Ética a Nicômaco [14]. Foi justamente esse pensamento que persistiu durante a Idade Média, que implicava numa proibição a usura, algo que não ocorreu no mundo islâmico, que via correto cobrar pela abstenção de consumo presente no empréstimo com um rendimento.
Durante a Idade Média, uma escola de pensamento notável foi a Escola de Salamanca, cujo grande ensinamento foi “em sua formulação de uma teoria psicológica do valor aplicada a bens e dinheiro, da teoria da quantidade e de uma teoria do câmbio que se assemelha muito à moderna teoria da paridade do poder de compra” [15]. Essa escola é considerada a predecessora da escola austríaca. Uma elaboração mais minuciosa das características dessa escola foge do escopo deste artigo.
Com o desenvolvimento do comércio e a expansão no interesse pela experimentação, advindos do Renascimento e Iluminismo, uma visão naturalista, baseada em uma crença deísta de um mundo tal como um relógio, permitiu que surgisse espaço para a teorização sistemática e científica. É nesse ambiente que vai emergir aos poucos a Economia como se entende hoje.
3.2. A Escola Mercantilista
Nas palavras de Lars G. Magnussum: “o conceito de “mercantilismo” designa um sistema de política econômica ou uma época no desenvolvimento da doutrina econômica durante os séculos XVII e XVIII” [16]. Tal doutrina foi uma consequência da prosperidade do comércio com a autossuficiência do sistema feudal, que lentamente abria caminho para o capitalismo comercial e uma expansão da atividade mercantil. Surgiram Estados-nações, e como consequência houve uma crescente rivalidade econômica entre eles, sendo neste cenário que o corpo de doutrinas mercantilistas emergiu [17].
Tal escola tinha como uma das principais doutrinas a ideia de uma balança comercial positiva, isto é, exportar mais que importar. Mas além de um corpo de ideias, segundo pensadores da escola histórica alemã como Gustav Schmoller (1838-1917) [18], o mercantilismo expressava os interesses econômicos do Estado, sendo seu núcleo de ideias então o dirigismo e a necessidade de um forte controle central da economia por parte do Estado, defendendo o uso de tarifas e protecionismo a fim de se proteger da concorrência externa e fortalecer internamente o Estado-nação.
A principal preocupação dos mercantilistas era sobre como as nações se tornam prósperas. Por conta disso, apoiavam-se na tese da balança comercial positiva. Alguns acreditavam que a abundância de dinheiro era de grande importância para a riqueza da nação – daí advém a interpretação smithiana do mercantilismo que supostamente equivalia riqueza com dinheiro [6]. É fato que os mercantilistas viam o ouro e a prata como formas desejáveis de riqueza e buscavam maximizá-los.
Um dos principais pensadores do mercantilismo foi Thomas Mun (1571-1641), com suas obras “A Discourse of Trade from England unto the East Indies” (1621) [19] e ”England’s Treasure by Forraign Trade” (1664) [20]. Outros mercantilistas importantes foram Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), Gerard de Malynes (1586-1641), William Petty (1623-1687) e James Stuart (1712-1780), cuja obra “Principles of Political Economy” (1767) é considerada uma das últimas grandes obras mercantilistas.
Na França o mercantilismo teve uma variante chamada Colbertismo (em referência a Colbert, o principal nome dessa variante) cuja ação intervencionista e protecionista do Estado servia a fim de proteger os comerciantes domésticos e financiar manufaturas estatais.
3.3. A Escola Fisiocrata
Entre 1756 até 1776 reinou na França o pensamento fisiocrata, tendo iniciado com a publicação ”Grande Encyclopédie”, de François Quesnay (1694-1774), um médico que se transformou em economista. Tal doutrina surgiu da contribuição de vários trabalhos e panfletos de membros da administração do reino francês justamente sobre administração, tendo ênfase nos aspectos econômicos e estudando os mecanismos de mercado, a partir do comportamento dos agentes auto-interessados [22].
O cenário francês político era constituído pelo Antigo Regime, no qual havia uma grande regulamentação das relações produtivas feita pelo governo. A indústria era pesadamente taxada, assim como a agricultura. Os camponeses tinham que arcar com grandes custos, enquanto a nobreza era isenta de impostos. Nesse cenário, combinado com a Guerra dos Sete Anos, houve a necessidade de aumentar as receitas do governo. A situação econômica do país se tornou um assunto de preocupação pública [23][24], e foi aí que os pensadores fisiocratas surgiram com uma solução.
Como argumenta P. Steiner: “A doutrina fiscal [fisiocrata] visava diminuir o custo econômico e social da administração fiscal, notadamente para a população do campo, por meio de um imposto pago diretamente por aqueles que eram os contribuintes efetivos, os latifundiários” [25]. Além dessa política, os fisiocratas acreditavam na primazia da agricultura sobre os demais setores e numa ordem natural nas relações humanas. Tal como as leis da natureza descobertas por Newton que governavam o mundo físico, também existiriam leis da natureza para as relações humanas. Assim, o mercado deveria ser livre para seguir sua própria ordem, a da oferta e demanda. Deste corpo de doutrina advém a célebre expressão: “Laissez-faire, laissez-passer, le monde va de lui-même” (deixar fazer, deixar passar, que o mundo vai por si mesmo).
Um dos grandes contribuidores do pensamento fisiocrata, François Quesnay, com sua ênfase em uma metodologia empírica e necessidade de cálculos econômicos acurados para resolução de problemas na economia, desenvolveu um sistema que modelava toda a circulação do capital, passando entre os latifundiários, o setor produtivo (agricultura) e o setor estéril (manufatura). A figura 1 ilustra tal sistema, que Quesnay denominou de “Tableu économique”.
Entre outras figuras que tiveram notável importância para o pensamento fisiocrata está o acadêmico Anne-Robert-Jacques Turgot (1727-1781), que, entre outras contribuições, demonstrou, através de uma análise de oferta e demanda, como o livre comércio geraria uma situação de Pareto-melhora, ou seja, uma situação onde nenhum agente econômico pode melhorar a sua situação sem que a situação de outro piore. Desenvolveu também uma teoria do valor baseada na utilidade, assim como desenvolveu uma clara concepção de lucro como rendimento do capital investido [27].
3.4. A Escola Clássica
Com a inauguração da célebre obra “A Riqueza das Nações” por Adam Smith (1723-1790) [6], sendo essa a base para o pensamento clássico junto com as obras de David Ricardo (1772-1823) [28][29], tal pensamento perdurou por pelo menos um século, tendo como foco questões produtivas, distributivas e de crescimento econômico. Essa escola foi constituída, principalmente, por jornalistas, advogados e empresários que situavam-se primordialmente nas ilhas britânicas, com exceção do economista francês J.B. Say (1776-1832).
Segundo Denis P. O’Brien: “Os amplos conceitos básicos da Riqueza das Nações definiram a agenda para toda a era clássica. O indivíduo busca o interesse próprio que, limitado por uma estrutura de lei, religião e costumes, e um senso moral inerente (simpatia), produz uma coincidência de satisfação pública e privada. A competição em resposta aos sinais de preços aloca recursos à medida que o capital busca oportunidades de lucro, e a busca por maior produção a partir dos recursos comandados pelo capital leva à especialização e divisão do trabalho, a mola mestra do progresso técnico. A liberdade de comércio estimula o progresso técnico e amplia o mercado, permitindo o escoamento do aumento da produção – a divisão do trabalho depende da extensão do mercado” [30].
Ou seja, existia uma grande defesa do livre comércio, muito baseado no modelo de vantagens comparativas ricardiano, ou seja, “o argumento era basicamente que, se um país fosse geralmente mais eficiente do que outro, inicialmente teria um superávit na balança de pagamentos e o ouro fluiria para ele. Isso inflaria sua oferta de moeda e aumentaria seu nível de preços, com o processo continuando até que os dois países estivessem em equilíbrio de balanço de pagamentos. O país mais eficiente importaria as mercadorias em que sua vantagem de produtividade fosse menor e exportaria aquelas em que sua superioridade fosse maior” [30]. Embora seja uma atitude laissez-faire a relutância em aceitar intervenções na indústria, por exemplo, essa atitude não era de maneira alguma dogmática. Smith alertava sobre o papel do Estado na provisão de justiça, defesa e infraestrutura. Além de que todos os clássicos eram favoráveis à provisão pública de educação e alguns defendiam formas de seguro-desemprego, ou demais formas de aliviar o desemprego, em virtude da crescente mecanização do trabalho.
O pensamento clássico pode ser formalizado como um sistema linear de reprodução simples [31], ou seja, um sistema de produção em que os vários setores da economia, dado certos inputs, produzem outputs que serão realizados para alimentar o sistema. O cerne da problemática clássica diz respeito a como se dá a produção e quem fica com o excedente, ou seja, como são distribuídos os rendimentos, tais como renda, lucro e salários [32]. Para uma discussão mais elaborada das minúcias do pensamento clássico, sugerimos D.P. O’Brien (2003) [30].
Era indispensável para os clássicos uma teoria do valor para explicar o sistema de mercado. O valor seria constituído de duas formas, uma seria o valor de uso, que diz respeito à utilidade que um bem provém, e outra seria o valor de troca, que é o que vemos no mercado, que estaria associado com o trabalho para produzir o bem, ou trabalho socialmente necessário, na formulação marxista [33]. Como diz Barbieri: “Embora na primeira teoria [teoria clássica] o sistema de preços oriente no curto prazo a alocação de recursos, no longo prazo os preços gravitavam em torno dos custos de produção determinados em essência pela quantidade de trabalho empregada na produção dos bens” [34]. Ou seja, o valor trabalho é a ortodoxia para os clássicos para explicar preços, enquanto a utilidade do bem era ignorada. Esse pensamento muito se deve ao paradoxo da água e do diamante de Smith [6], que se perguntava o porquê da água ser tão barata mesmo sendo muito útil e diamantes muito caros mesmo sendo inúteis (ou menos úteis que água). Tal questionamento fez Smith desviar-se de explicações envolvendo utilidade, embora essa tenha sido usada por clássicos como Say [35] e Mountifort Longfield (1802-1884) [36].
A escola clássica foi uma longa e rica tradição intelectual que se seguiu do programa de pesquisa iniciado por Adam Smith (1723-1790), com última grande obra dessa tradição sendo Das Kapital [37] de Karl Marx (1818-1883). Outro clássico notável foi Thomas Malthus (1766-1834), cuja teoria populacional, que dizia que a população cresce em progressão geométrica e a oferta de alimentos em progressão aritmética, de modo que uma restringe o crescimento da outra, serviu como doutrina para os demais pensadores clássicos. Além disso, fizeram parte dessa escola John Stuart Mill (1806-1873) e os já citados David Ricardo (1772-1823) e J.B. Say (1767-1832).
3.5. A Revolução Marginalista e suas vertentes inglesa, francesa e austríaca
A revolução marginalista foi o desenvolvimento independente em 1871 e 1874 do inglês William Stanley Jevons (1835-1882) no livro “The Theory of Political Economy” [38], do francês Marie-Ésprit-Léon Walras (1834-1910) no livro “Elements d’économie politique pure” [39] e do austríaco Carl Menger (1840-1921) no livro “Grundsätze der Volkswirtschaftslehre” [40]. Ela tratou, sobretudo, da teoria da utilidade marginal, isto é, abandona-se uma teoria do valor baseada nos custos de produção (teoria do valor trabalho) para adotar uma teoria do valor subjetivo, utilizando-se do método marginalista.
O método marginalista constitui, nas palavras de Bert Mosselmans, em “uma abordagem teórica em economia que resulta do insight de que as decisões econômicas são tipicamente tomadas “na margem”: o consumidor decide se deve ou não consumir um item adicional de um bem de consumo; o investidor financeiro decide se compra ou não uma ação adicional de uma determinada empresa; e o empregador decide se deve ou não contratar mais um trabalhador” [41].
A divergência entre a antiga visão clássica e a nova visão marginalista pode ser melhor exposta nas palavras de John Hicks: “É claro que não há dúvida de que a troca é uma característica básica da vida econômica, pelo menos em uma economia “livre”, ou o que Marx teria chamado de economia “capitalista”. Nenhum dos economistas clássicos teria sido negado isso. Mas enquanto os clássicos olhavam para o sistema econômico principalmente do ângulo da produção, o catalaxista [marginalista] olhava principalmente para o lado da troca. Era possível, eles descobriram, construir uma “visão” da vida econômica a partir da teoria da troca, como os clássicos haviam feito a partir do produto social. Era uma visão bem diferente” [32].
A análise marginalista então propunha uma nova visão, colocando “preços e alocação de recursos com oferta limitada como o centro da análise econômica” [42]. Os marginalistas conseguiram resolver o problema da água e do diamante ao olhar para a utilidade marginal decrescente, que diz que a cada acréscimo de uma unidade do bem, menor vai ser o acréscimo marginal de utilidade, como exposto na figura 2. O problema é resolvido pois em baixos níveis de consumo, a água tem uma utilidade marginal muito maior do que os diamantes e, portanto, é mais valiosa. As pessoas geralmente consomem água em níveis muito mais elevados do que os diamantes e, portanto, a utilidade marginal e o preço da água são menores do que os diamantes.
A revolução marginalista permitiu uma modernização na economia, principalmente pelo uso do cálculo diferencial e integral, utilizado por Jevons, e de sistemas de equações simultâneas, que permitiu a análise de equilíbrio geral (isto é, da interrelação entre diversos mercados), por Léon Walras. O diferencial da vertente austríaca foi o seu subjetivismo. Menger, por exemplo, considerou que para algo ser considerado um bem econômico é necessário as seguintes propriedades:
1. Deve haver uma necessidade humana para a coisa;
2. A coisa deve ser “capaz de ser trazida a uma conexão causal com a satisfação dessa necessidade”;
3. Os humanos devem saber desta conexão causal;
4. Devemos ter comando suficiente sobre a coisa para que possamos usá-la para satisfazer a necessidade.
Como argumenta Horwitz: “Além da segunda condição, que pode se referir às propriedades do próprio objeto, as condições listadas por Menger não se centram na coisa em si, mas em sua relação com os humanos. Ele fala das necessidades humanas, do conhecimento humano e de nossa capacidade de comandar a coisa em questão. Desde o início, Menger torna essas preocupações centrais para sua concepção de economia. Como ele argumenta mais tarde sobre o valor, o que torna algo um bem não é uma propriedade do próprio bem “mas apenas uma relação entre certas coisas e os homens” [40]. Atribuir a característica de ser um “bem” à relação entre uma coisa e os seres humanos reflete o caráter nitidamente subjetivista do marginalismo austríaco” [43].
Então os marginalistas mudaram o foco da discussão clássica para tornar a economia não mais um problema de distribuição do excedente, mas um problema alocativo, ou nas palavras de Lionel Robbins a economia é “a ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos” [44]. O foco metodológico se torna agora a análise de mudanças marginais. Enquanto a vertente inglesa usava de gráfico e cálculo, a vertente francesa utilizava de equações simultâneas modelando a economia como um todo interagindo e a vertente austríaca usava da prosa, se preocupando com questões de desequilíbrio e da atividade incerta empresarial (algo notável dessa vertente, já que as demais, pelo próprio aparato matemático, focavam nas condições de equilíbrio do sistema econômico). Para saber mais da vertente inglesa, francesa e austríaca, recomenda-se respectivamente P. Groenewegen (2003) [45], D.A. Walker (2003) [46] e S. Horwitz (2003) [44].
3.6. A Escola Neoclássica
Como argumenta David Colander, “o uso atual do termo [neoclássicoª por historiadores do pensamento é esquizofrênico e inconsistente” [4]. É um termo vago que denota divergentes teorias e posicionamentos políticos, ao mesmo tempo que é usado de forma incoerente pela academia. Não à toa que alguns dos seus principais estudiosos, como Aspromourgos(1986) [47], Fayazmanesh (1998) [48] e Lawson (2013) [49] pedem para que essa nomenclatura deixe de ser usada. O termo geralmente é usado para caracterizar as teorias que se seguem após o marginalismo, sendo tudo que é anterior a ele o período clássico. Mas, para o termo ter algum significado, é de se esperar que exista alguma continuidade entre os economistas neoclássicos e os clássicos, o que não é verificado. Maurice Dobb [50] sugere que o termo contra-clássico seria mais adequado; já Schumpeter [51] disse que “não há mais sentido em chamar a teoria de Jevons-Menger-Walras de neoclássica do que chamar a teoria de Einstein de neo-newtoniana”.
Segundo Aspromourgos [47], o termo teve sua origem em 1900 no artigo “The Preconceptions of Economic Science” de Thorstein Veblen [52]. O termo seria usado para designar o pensamento de Alfred Marshall, que buscava sintetizar no seu trabalho o marginalismo com insights dos clássicos. Tal concepção de neoclássico como derivação do marshallianismo é seguida pelo historiador do pensamento econômico Stanley Brue [17]. Aspromourgos complementa que “foi apenas com Hicks e Stigler, entre 1930 e 1940, que o termo foi estendido para abarcar o marginalismo no geral”. O pensador Milan Zafirovski argumenta que “a nomenclatura “neoclássico” para designiar o marginalismo era problemática na medida em que o marginalismo […] era “anti-clássico” ao invés de “novo” clássico, como o termo neoclássico sugeriria” [53].
Um jeito de tornar operacionalizável o termo é seguir Lawson [49] e investigar mais a fundo a diferenciação feita por Veblen [52]. Segundo a interpretação de Lawson, Veblen diferencia dois tipos de ciência em relação à sua ontologia: a taxonômica, que seria a ciência da normalidade ou do caso normal, que se preocupa com achar regularidades e correlações, isto é, considera a sociedade um sistema fechado; e a evolutiva, que seria a ciência adaptativa que busca uma acumulação de sequências causais cumulativas, isto é, considera a sociedade um sistema aberto. O neoclássico, exemplificado pela figura de Marshall, seria justamente aquele que, como os clássicos, seguia uma metodologia taxonômica, porém aderindo a uma ontologia evolutiva. Essa tensão fundamental entre método e ontologia constituiria o pensamento neoclássico.
O mesmo Lawson defende o abandono do uso do termo, pois tal termo é caracterizado por uma posição conflitante. Diz ele que “se o uso atual do termo “neoclássico” perdeu contato com seu significado original, não corresponde à sua fatura de sinalizar continuidade com a escola clássica e não é consistentemente interpretado de forma útil mesmo por aqueles que buscam coerência interna, parece ser adicionalmente o caso de que não haja necessidade de tal termo de qualquer maneira, pelo menos não para capturar os principais desenvolvimentos e/ou abordagens dentro da economia moderna” [49].
Então usar o termo “neoclássico” para designar o que é feito hoje na academia parece tornar essa nomenclatura inconsistente e, consequentemente, inútil. Só faria sentido esse termo ser usado como uma caracterização histórica, que segundo pensadores como Roger Backhouse [54] iria de 1890 até 1936, com a maioria dos historiadores [4] seguindo Stigler e colocando o período neoclássico entre 1870 até 1930, enquanto autores como o já citado Brue [17] diferenciam o marginalismo de Jevons-Menger-Walras do neoclassicismo de Marshall e cia.
Ou seja, “neoclássico” pode designar uma escola do pensamento datada no tempo, que vai de 1870/1890 até 1930. Seu pai fundador foi Alfred Marshall (1842-1924) com as suas contribuições condensadas no seu livro “Principles of Economics” [55]. Mas o que faz de alguém neoclássico? Segundo Frank Hahn [56][57], o neoclássico é aquele que toma uma perspectiva individualística, ou seja, a unidade de análise é o indivíduo, o uso de um axioma de racionalidade, e o estudo de equilíbrios. Roy Weintraub [58] identifica os neoclássicos com base em relações de preferência racionais, maximização da utilidade por parte dos indivíduos e dos lucros por parte das firmas, além de o agir dos indivíduos ser baseado em informação completa. Já Arnsperger e Varoufakis [59] os identificam pelo individualismo metodológico, instrumentalismo e análise de equilíbrio.
Geoffrey Hodson [60] identifica as principais características neoclássicas com base na hipótese de comportamento maximizador racional, estados de equilíbrio e ausência de problemas de informação. Por sua vez, para William Dugger [61] os neoclássicos se diferenciam por causa de sua metodologia, que leva em conta teorias preditivas, onde o poder preditivo das teorias é o que importa, e não seu realismo (seguindo Machlup [62] e Friedman [63]). Os indivíduos e as firmas maximizadoras de lucro são, nesse contexto, a unidade básica de análise dentro de uma perspectiva individualista. Já Ben Fine [64] acredita que não é o comportamento maximizador, a racionalidade ou o individualismo a principal diferença metodológica dos neolcássicos, mas sim o uso do aparato matemático.
Pelo nosso entender, Colander [4] apresenta os atributos neoclássicos mais notáveis. Estes são:
1. Concentrar-se na alocação de recursos em um determinado momento no tempo;
2. Aceitar algumas variações do utilitarismo como desempenhando um papel central na compreensão da economia;
3. Concentrar-se em trade-offs marginais;
4. Assumir uma racionalidade previdente;
5. Aceitar o individualismo metodológico;
6. Ser estruturado em torno de um conceito de equilíbrio geral da economia.
As posições do modelo neoclássico dentro da macroeconomia são melhor explicitadas em Lopes e Vasconcellos [65]:
1. As forças de mercado tendem a equilibrar a economia a pleno emprego, isto é, no ponto em que se igualam a oferta e a procura de mão-de-obra. Isso corresponde a dizer que há completa flexibilização de preços e salários.
2. Como o nível de atividade e de emprego está determinado automaticamente pelas forças de mercado, a quantidade de moeda afeta apenas o nível geral de preços. Significa dizer que as variáveis reais, bem como os preços relativos, não são afetadas pela política monetária (hipótese da neutralidade da moeda).
3. A demanda agregada não é um fator determinante do nível do produto. É válida a chamada Lei de Say (“a oferta cria sua própria demanda”).
O foco do trabalho neoclássico é no desenvolvimento da microeconomia, ou na antiga “teoria de preços”, área que foi estabilizada durante 1920 e 1950, no sentido de que um consenso foi atingido. Como cita Roger Backhouse [66]: “Na década de 1920, a ideia de que o comportamento do consumidor deveria ser visto como envolvendo a maximização da utilidade sujeita a restrições orçamentárias, com as demandas sendo determinadas por condições de primeira ordem relevantes, era amplamente aceita”.
A definição de utilidade foi muito debatida, com a escola de Cambridge propondo a visão de utilidade como a habilidade de satisfazer desejos. O conflito foi resolvido por meio da adoção de utilidade via preferência revelada de Paul Samuelson [67]. Enquanto isso, houve uma revolução na área da chamada competição imperfeita. A partir das ideias de Piero Sraffa [69], Joan Robinson [68] e Edward Chamberlin [70] desenvolveram de forma independente modelos de competição imperfeita, algo que paradoxalmente mostrou a importância da competição perfeita, por ser essa a teoria mais geral que tinha sido produzida na economia – uma teoria que servia de fundacional para a teoria de preços.
Backhouse sintetiza a situação durante esse período de estabilização da teoria de preços: “A teoria do consumidor deixou de explicar as escolhas e apenas as descreveu: a racionalidade passou a ser equiparada a preferências transitivas e consistentes. A empresa passou a ser modelada como maximizadora de lucros, e os aspectos da empresa e dos mercados (para os quais Marshall havia fornecido argumentos evolutivos) que não podiam ser incluídos nessa estrutura foram abandonados. A competição passou a ser entendida em termos de incapacidade dos agentes de influenciar o preço em mercados desprovidos de qualquer característica institucional, definida apenas pela existência de um preço único. O resultado foi que as visões de processo da competição foram ignoradas” [66].
Entre os neoclássicos famosos estão o já citado Alfred Marshall (1849-1924), além de Arthur Cecil Pigou (1877-1959), Jason Bates Clark (1847-1938), Frank Knight (1885-1972), entre outros.
3.6.1. A Escola Matemática ou Neowalrasiana
Seguindo o historiador do pensamento econômico Stanley Brue [17], a “escola matemática” não é propriamente uma escola, mas um método, um projeto de pesquisa que nasceu do berço neoclássico e que dominou a fronteira econômica nos anos após a Segunda Guerra. Isso se deu por conta do renascimento dos debates sobre a teoria do equilíbrio geral e o uso de programação linear e demais análises matemáticas que serviriam de grande importância para os esforços de guerra, de modo que prevaleceu uma corrente formalista na economia em detrimento das escolas neoclássica e institucionalista (a explicação das características dessa última não fazem parte do escopo do presente texto – se você quiser ler sobre ela, recomendamos os textos de Rutherford [71][72]). Vale notar que no período entre-guerras houve um grande grau de pluralismo entre abordagens nas academias americanas, em que dominavam os institucionalistas e os neoclássicos.
Para entender as transformações na economia consequentes dessa revolução formalista, é preciso primeiro entender o que aconteceu com a matemática na virada do século XIX para o século XX. Segundo Lawson [49]: “A matemática, especialmente por meio do trabalho de David Hilbert, tornou-se cada vez mais vista como uma disciplina propriamente preocupada em fornecer um conjunto de estruturas para possíveis realidades. Ela passou a ser concebida como uma prática preocupada com a formulação de sistemas compreendendo conjuntos de axiomas e suas consequências dedutivas, com esses sistemas assumindo vida própria. A tarefa de encontrar aplicações passou a ser considerada de importância secundária, na melhor das hipóteses, e não de interesse imediato”.
Antes de propriamente adentrarmos na importância dessas mudanças, precisamos passar pelo conteúdo das transformações econômicas antes da revolução. Nos anos 40, Paul Samuelson (1915-2009) transformou a profissão com o seu seminal Foundations of Economic Analysis (1947) [73]. Segundo S.A.T. Rizvi [74]: “Conforme a carreira de Samuelson avançava, o principal recurso matemático do livro – a formulação de quase todas as questões econômicas como um problema de otimização restrita – tornou-se comum. A otimização restrita passou a representar o problema econômico, englobando a formulação da economia de Lionel Robbins como a alocação de recursos escassos entre fins concorrentes. A escassez foi representada como restrição e o processo de alocação envolvia otimização”. Ou seja, a linguagem padrão da economia se tornou a otimização via multiplicadores de Lagrange do cálculo diferencial e integral.
Essas transformações feitas por Samuelson foram acompanhadas por Oskar Lange (1904-1965), Harold Hotelling (1895-1973), John Hicks (1904-1989), Maurice Allais (1911-2010) e Abba Lerner (1903-1982), que proveram as bases para se estudar a demanda e a oferta da economia com base na otimização. A curva de demanda seria derivada de uma otimização restrita da função utilidade e a curva de oferta de uma otimização das firmas, colocando sobre um aparato matemático a noção do indivíduo como agente racional e a firma como maximizadora de lucro.
O trabalho desse indivíduos também culminou nos Teoremas de Bem-Estar e em um renascimento da Teoria do Equilíbrio Geral, que foi desenvolvida no Vienna Colloquium, que foi gerido por um grupo de matemáticos na Áustria por volta da década de 1930 buscando estudar a existência do equilíbrio competitivo [75]. Tal grupo, constituído por Karl Menger (1902-1985), Karl Schlesinger (1889-1938), Abraham Wald (1902-1950), entre outros, foi estimulado pelos trabalhos de John von Neumann (1903-1957), que introduziu o uso de teoremas de ponto fixo para provar a existência de equilíbrio.
Segundo Rizvi [74]: “Os esforços para demonstrar a existência de equilíbrio competitivo continuaram nos Estados Unidos sob os auspícios da Cowles Commission, que começou em Chicago (posteriormente mudando-se para New Haven). Os teóricos do equilíbrio geral (Arrow, Debreu, Koopmans, McKenzie e outros) usaram técnicas matemáticas semelhantes às empregadas pelo grupo de Viena, em vez dos métodos de cálculo de Hicks e Samuelson. Os economistas de Cowles, incluindo Arrow (1951) [76], usaram o raciocínio axiomático (que também desempenhou um papel proeminente na Teoria dos Jogos e comportamento econômico de von Neumann e Morgenstern de 1944 [77]). Eles também empregaram a teoria dos conjuntos, especialmente porque analisavam estruturas convexas (Koopmans, 1957 [78]; Debreu, 1959 [79]). Muitas das questões econômicas que examinaram eram semelhantes às consideradas por Samuelson: teoria do consumidor, teoria do produtor e os teoremas da economia do bem-estar. Estes foram reconsiderados com os novos métodos matemáticos, muitas vezes exageradamente contrastados com o cálculo anterior. Debreu, por exemplo, escreveu depreciativamente sobre “cálculo e outros compromissos com a lógica” (Debreu, 1959). Os princípios básicos dessa abordagem foram dados no tratamento metodológico de Koopmans (1957) [78] e no enunciado resumido de Debreu (1959) [79]”.
Segundo Blaug [5], foi esse uso do método axiomático-dedutivo baseado no formalismo hilbertiano que deu origem à revolução formalista. Um exemplo típico é o desenvolvimento da teoria de crescimento moderna, que levou à controvérsia do capital [80]. Segundo Blaug, algo notável tanto na teoria do crescimento quanto no debate da controvérsia foi seu caráter formalístico.
A prova do equilíbrio geral em 1954 no artigo “Existence of an equilibrium for a competitive economy” [81] de Kenneth Arrow (1921-2017) e Gérard Debreu (1921-2004) foi um grande desenvolvimento para esse programa de pesquisa formalístico. O caráter notável desse desenvolvimento matematizado de método axiomático e dos desenvolvimentos da teoria de jogos por John Nash (1928-2015) [82] foi o fato de que o processo de mercado convergindo ao equilíbrio se torna uma posição heterodoxa, enquanto a ortodoxia se preocupava com estado de equilíbrio, seu end-state (estado final).
Para saber mais sobre os desenvolvimentos desse programa de pesquisa recomendamos os artigos de Rizvi (2003) [74] e Blaug (2003) [5].
3.7. A Revolução Keynesiana
As escolas de pensamento que iremos discutir a partir de agora dizem respeito a macroeconomia apenas. A micro persiste em espírito com o programa neowalrasiano, embora sua história recente seja um tanto mais delicada que isso. Descrever essa história está além do escopo deste artigo. Recomendamos a leitura do de Rizvi [74].
Pois bem, antes de falarmos propriamente dessa transformação keynesiana no pensamento econômico, é melhor situá-la no tempo. Em meados dos anos 30, após a crise de 29, se percebeu que as teorias neoclássicas a respeito dos ciclos de negócio foram incapazes de entender e justificar esta crise, uma vez que ela persistiu com desemprego involuntário (que, segundo Lopes e Vasconsellos, é caracterizado por: “o indivíduo, apesar de aceitar trabalhar ao salário vigente e mesmo abaixo deste, não consegue emprego” [65]).
É neste cenário que a seminal obra “The General Theory of Employment, Interest and Money” [83] de John Maynard Keynes (1883-1946) faz uma verdadeira revolução no pensamento econômico, uma vez que reage ao pensamento neoclássico de Marshall e Pigou e estabelece um sistema cuja rigidez dos preços, ou seja, a incapacidade do mercado de se autorregular rapidamente, cria espaço para desemprego involuntário.
Como resumiram por G.C. Hancourt e Prue Kerr:
“A dicotomia do dinheiro real foi descartada; dinheiro e assuntos financeiros entraram na análise, totalmente integrados com os acontecimentos reais. O dinheiro, analiticamente, tinha todas as suas dimensões – uma reserva de valor, bem como um meio de troca e uma unidade de conta. A ênfase mudou do longo para o curto período. As predileções de Keynes a esse respeito foram reforçadas pela abordagem e trabalho de seu aluno favorito, agora colega, Richard Kahn (1905-1989), cuja dissertação de bolsa de estudos de King, “The economics of the short period” [84], tornou o curto período digno de estudo por si só – embora , como veremos, não é unanimemente acordado que a Teoria Geral é ou deveria ter uma ênfase no curto prazo. A mudança da poupança que determina o investimento para o investimento que determina a poupança, que já estava ocorrendo em Cambridge e em outros lugares, tornou-se completa na Teoria Geral. A taxa de juros do dinheiro, agora o preço que igualava a demanda e a oferta de dinheiro, dominava o poleiro; a versão da Teoria Geral da taxa natural de juros tinha que estar à altura dela. O conceito herético de um equilíbrio ou estado de repouso com desemprego, o ponto da demanda efetiva, emergiu como a proposição central da Teoria Geral.
Com a refutação da Lei de Say, a teoria quantitativa da moeda não explicava mais o nível geral de preços. Keynes o substituiu por uma versão macroeconômica da curva de oferta de curto período de Marshall. Com o preço sendo assumido geralmente como igual ao custo marginal, havia uma relação de inclinação ascendente entre a atividade e o nível geral de preços em qualquer situação” [85].
As ideias de Keynes, que foram estabelecidas como válidas no curto prazo (a despeito de certos keynesianos discordarem que esse seja o foco da teoria), serviram para os esforços de guerra na Inglaterra e para evitar problemas inflacionários. Keynes também influenciou as políticas econômicas para que elas tivessem um caráter anticíclico, ou seja, um caráter que remediasse os efeitos de depressões. Isso foi adotado pelo presidente Franklin D. Roosevelt (1882-1945) a fim de amenizar os efeitos da Grande Depressão advinda da crise de 29, com o pacote de políticas conhecido como New Deal.
Como descrevem Lopes e Vasconcellos: “Assim, da forma como Keynes caracteriza o sistema econômico, sua principal contribuição normativa foi propor o uso de políticas fiscais compensatórias que tenderiam a ser muito mais eficientes do que instrumentos monetários, cuja eficácia dependeria de duplo condicionante: a capacidade da política monetária em afetar a taxa de juros, e uma vez que tenha afetado, que esta não seja sobrepujada por alterações na eficiência marginal do capital que limitem o impacto das alterações na taxa de juros sobre o investimento” [65].
Keynes criou uma ampla gama de seguidores em Cambridge e ao redor do mundo, que ficaram conhecidos como pós-keynesianos. Entre eles estão Michael Kalecki (1899-1970), Nicholas Kaldor (1908-1986), Joan Robinson (1903-1983) e Luigi Pasinetti (1930-). Para uma análise mais profunda de Keynes e dos pós-keynesianos recomendamos o artigo de Hancourt e Kerr [85].
3.8. A síntese neoclássica ou Escola Neokeynesiana
Samuelson, na terceira edição do seu livro Economics [86], colocou a seguinte frase: “Nos últimos anos, 90% dos economistas americanos deixaram de ser ‘Economistas Keynesianos’ ou ‘Economistas anti-Keynesianos’. Ao invés disso, eles trabalharam para uma síntese de tudo o que é valioso na economia mais antiga e nas teorias modernas de determinação de renda. O resultado pode ser chamado de economia neoclássica e é aceito em seus amplos contornos por todos, exceto cerca de 5% da extrema-esquerda e da direita escritora”.
Também disse que: “Encontraremos repetidamente nos capítulos posteriores o que é chamado de “síntese neoclássica”. Se a economia moderna cumprir sua tarefa tão bem que o desemprego e a inflação são substancialmente banidos das sociedades democráticas, então sua importância diminuirá e a economia tradicional (cuja preocupação é a alocação sábia de recursos totalmente empregados) realmente entrará em ação” (Samuelson, 1955, p. 11).
Ou seja, a síntese neoclássica foi a união dos insights e modelos informais keynesianos, como aqueles presentes na Teoria Geral [83], transformados em um modelo formal, e do paradigma neowalrasiano. Os aspectos keynesianos se situariam no curto prazo, enquanto a teoria antiga neowalrasiana se situaria no longo prazo.
As seguintes proposições da abordagem neowalrasiano eram tidas como consensuais para a determinação da economia no longo prazo, segundo Backhouse [66]:
1. O princípio organizador da economia é o equilíbrio competitivo de oferta e demanda. A competição é entendida como a incapacidade dos agentes individuais de influenciar o preço de mercado combinada, no longo prazo, com a liberdade de entrada e saída.
2. A demanda é determinada pelos consumidores, que escolhem seu pacote de produtos preferidos sujeitos a restrições orçamentárias. As preferências são assumidas para exibir não-pacificação, transitividade e convexidade. Se uma função de utilidade for usada, ela é entendida como uma representação puramente ordinal de preferências.
3. Assume-se que as empresas se comportam como se maximizassem o lucro sujeito a uma função de produção e aos preços dos fatores e produtos.
4. Onde os problemas claramente envolvem comportamento não competitivo, as imperfeições da concorrência são entendidas como violações da premissa de tomada de preços: os agentes são capazes de influenciar os preços nos mercados em que estão negociando.
5. As funções de bem-estar devem ser individualistas, contendo como argumentos as utilidades (no sentido descrito acima) dos consumidores individuais. Dada a ausência de bases científicas para comparar as utilidades de diferentes indivíduos, o principal critério de bem-estar era a eficiência de Pareto ou a otimização de Pareto (os dois termos sendo usados indistintamente).
Pode-se dizer que a síntese neoclássica tem seu início no trabalho de Hicks “Mr.Keynes and the ‘classics’: a suggested interpretation” (1937) [87] e mais tarde estendido pelo trabalho de Alvin Hansen (1887-1975) no seu trabalho “A guide to Keynes” (1953) [88]. Ambos os autores desenvolveram o modelo conhecido com IS-LM, que incorpora todos os insights keynesianos – por exemplo, que o produto (a renda) é determinado pela demanda agregada, que os preços são rígidos no curto prazo, que a taxa de juros é um fator que está presente na demanda agregada no curto prazo afetando o investimento, enquanto também faz parte do longo prazo na oferta agregado, por permitir a expansão da capacidade produtiva. Um exemplo do modelo se mostra na figura 3.
Cada gráfico acima representa a seguinte situação:
A: uma expansão fiscal, ou seja, um aumento dos gastos do governo ou diminuição dos impostos.
B: uma contração fiscal, ou seja, uma diminuição dos gastos do governo ou aumento dos impostos.
C: uma expansão monetária, ou seja, uma diminuição da taxa de juros.
D: uma contração monetária, ou seja, um aumento da taxa de juros.
Para estudar mais sobre o modelo IS-LM recomendamos o livro Macroeconomia de Olivier Blanchard [89] e seu artigo “Neoclassical Synthesis” [90] para entender mais da síntese com todos os seus detalhes e todas as suas transformações específicas com seus diversos contribuidores.
3.9. O Monetarismo
Segundo Phillip Cagan: “O monetarismo é a visão de que a quantidade de dinheiro tem uma grande influência sobre a atividade econômica e o nível de preços e que os objetivos da política monetária são mais bem alcançados tendo em vista a taxa de crescimento da oferta monetária” [91]. Segundo essa escola de pensamento, a oferta monetária (a quantidade total de dinheiro na economia) é o principal determinante do PIB atual no curto prazo e do nível de preços em períodos mais longos.
Seguindo J. Brandford De Long [92], houveram várias vertentes monetaristas ao longo da história. Seu primeiro movimento estaria associado ao trabalho de Irving Fisher (1867-1947) sobre a teoria quantitativa da moeda. Embora tais ideias possam ser remontadas a David Hume (1711-1776) [93], Fisher foi o pioneiro no uso dessa teoria para fazer análises quantitativas e previsões sobre o nível de preços, inflação, etc.
A ausência de uma teoria para os ciclos de negócios e o enfoque nas análises de longo prazo fizeram Fisher criticado por Keynes pelo fato de que “no longo prazo estaremos todos mortos” [94]. Essa abordagem proto-monetarista foi abandonada com advento da Revolução Keynesiana. Isso nos leva a outra tradição proto-monetarista, que advém da old Chicago monetarism [monetarismo da velha Chicago] de Jacob Viner (1892-1970), Henry Calvert Simons (1899-1946) e Frank Knight (1885-1972).
Há debates se tal tradição efetivamente existiu. Don Patkin [95][96] e Harry Johnson [97] negam a existência de um grupo coeso, já George Tavlas [98] afirma existir sim uma escola coesa proto-monetarista, mesmo que implícita. Nesse caso, tal escola, segundo De Long, “enfatizava a variabilidade da velocidade da moeda e sua correlação potencial com a taxa de inflação. Na política econômica, eles culparam as forças monetárias que causaram a deflação como a fonte da depressão” [92].
Eis que chegamos finalmente no monetarismo em sua expressão clássica desenvolvida mais extensivamente por Milton Friedman (1912-2006) em artigos como “Studies in the Quantity Theory of Money” [99], “A program for monetary stability” [100] e “The Role of Monetary Policy” [101]. Segundo Jahan e Papageorgiou, “hoje o monetarismo está associado principalmente ao economista ganhador do Prêmio Nobel Milton Friedman. Em sua obra seminal “A Monetary History of the United States, 1867-1960” [102], que escreveu com sua colega economista Anna Schwartz em 1963, Friedman argumentou que a má política monetária do Banco Central dos EUA, o Federal Reserve, foi a principal causa do Grande Depressão nos Estados Unidos na década de 1930. Em sua opinião, o fracasso do Fed (como geralmente é chamado) em compensar as forças que estavam pressionando para baixo a oferta de moeda e suas ações para reduzir o estoque de dinheiro foram o oposto do que deveria ter sido feito. Eles também argumentaram que, como os mercados se movem naturalmente em direção a um centro estável, uma oferta de moeda definida incorretamente fez com que os mercados se comportassem de maneira errática” [103].
Segundo D. Laidler [104], o monetarismo teria como principais características as seguintes:
1. Uma abordagem de ‘teoria da quantidade’ para a análise macroeconômica em dois sentidos distintos: (a) aquela usada por Milton Friedman (1956) [105] para descrever uma teoria da demanda por dinheiro, e (b) o sentido mais tradicional de uma visão que a flutuação na quantidade de dinheiro é a causa dominante das flutuações na receita monetária.
2. A análise da divisão das flutuações da renda monetária entre o nível de preços e a renda real em termos de uma curva de Phillips aumentada com expectativas, cuja estrutura exclui um trade off de longo prazo economicamente significativo entre as variáveis.
3. Uma abordagem monetária para o balanço de pagamentos e teoria da taxa de câmbio.
4. (a) Uma antipatia à política de estabilização ativista, seja monetária ou fiscal, e aos controles de salários e preços, e (b) apoio a ‘regras’ de política monetária de longo prazo ou pelo menos ‘metas’ apresentadas, expressas em termos de comportamento de algum agregado monetário em vez das taxas de juros.
Os monetaristas estavam em confronto com os neo-keynesianos, sendo as maiores diferenças esboçadas em termos de policy (política). Notoriamente, os monetaristas eram defensores da política monetária ao invés da fiscal, pois segundo eles esta teria pouco efeito. Friedman disse “eu continuo a acreditar que nossa diferença fundamental é empírica e não teórica” [106]. Tanto é que monetaristas e neo-keynesianos estavam dispostos a dialogar usando o mesmo aparato, o modelo IS-LM, e discordando apenas do comportamento das curvas. Todavia, Laidler [104] acredita que a verdadeira fonte das discordâncias advém da aceitação monetarista de uma modelagem num mundo walrasiano, portanto não havendo necessidade do governo fazer política econômica sistemática, enquanto os neo-keynesianos modelavam um mundo não-walrasiano (embora aceitando-o no longo prazo, como explicitado acima), de modo que existia espaço para a intervenção do Estado na economia de forma sistemática.
Baseados na teoria quantitativa da moeda, os monetaristas viam a velocidade da moeda, isto é, a taxa com que o dinheiro troca de mãos, sendo geralmente estável, de modo que a renda nominal seria uma função da oferta monetária.
Segundo Jahan e Papageorgiou [103], baseados nesses pontos da teoria quantitativa, os pressupostos e prescrições monetaristas são:
1. Neutralidade monetária de longo prazo: um aumento no estoque de moeda seria seguido por um aumento no nível geral de preços no longo prazo, sem efeitos sobre fatores reais como consumo ou produto.
2. Não-neutralidade monetária de curto prazo: um aumento no estoque de dinheiro tem efeitos temporários sobre o produto real (PIB) e o emprego no curto prazo porque os salários e preços levam tempo para se ajustar (eles são rígidos, no jargão econômico).
3. Regra de crescimento monetário constante: Friedman propôs uma regra monetária fixa, afirmando que o Fed deveria ter como meta a taxa de crescimento da moeda para igualar a taxa de crescimento do PIB real, deixando o nível de preços inalterado. Se a economia crescer 2% em um determinado ano, o Fed deveria permitir que a oferta de moeda aumentasse 2%. O Fed deve ser vinculado a regras fixas na condução da política monetária porque o poder discricionário pode desestabilizar a economia.
4. Flexibilidade das taxas de juros: a regra de crescimento monetário destinava-se a permitir que as taxas de juros, que afetam o custo do crédito, fossem flexíveis para permitir que os tomadores e credores levassem em conta a inflação esperada, bem como as variações nas taxas de juros reais.
Monetaristas ganharam notoriedade na década de 70, que foi um período de baixo crescimento e altas taxas de inflação. Medidas monetaristas foram adotadas na política monetária em 1979 com Paul Volcker (1927-2019) no comando do FED e implementadas no Banco da Inglaterra a mando de Margaret Thatcher (1925-2013). As aplicações inicialmente foram bem-sucedidas, mas logo o modelo monetarista veio a ser questionado dado que o link entre oferta monetária e PIB nominal “quebrou”. Isso porque houve uma mudança na velocidade da moeda que fez a relação entre essa duas variáveis se tornar instável. Como consequência, houve uma mudança na relação entre quantidade de dinheiro e performance econômica. Mesmo assim, alguns insights monetaristas sobre a importância da política monetária prevalecem até hoje em uma nova roupagem.
3.10. Choque do petróleo, estagflação e a crítica de Lucas
Dado o apoio dos Estados Unidos a Israel na Guerra de Yom Kippur, os países da OPEP aumentaram o preço do petróleo em mais de 400%. Esse foi o “choque do petróleo”, que foi seguido de uma enorme recessão acompanhada de um fenômeno chamado estagflação, que é, segundo a definição da Investopédia [107]: “caracterizada por crescimento econômico lento e desemprego relativamente alto – ou estagnação econômica – que é ao mesmo tempo acompanhado por preços crescentes (ou seja, inflação). A estagflação também pode ser definida alternativamente como um período de inflação combinado com um declínio no produto interno bruto (PIB)”. Ou seja, estagflação é inflação combinada com desemprego persistente.
A causa da estagflação na época foi associada ao choque do petróleo, mas essa relação não explica a ausência de estagflação nas demais épocas nas quais houveram choque do petróleo, como nos anos 80. Segundo um estudo de Benjamin Hunt, “a aceleração dos preços da energia por si só não pode explicar a estagflação amplamente experimentada ao longo da década de 1970” [108], e segundo Lutz Kilian [109] foi a mudança de política monetária que teve o principal papel em causar o aumento do preço do petróleo e a estagflação em muitas economias. Segundo o autor: “A aberração [da estagflação] aparece no período dos anos 1970 e começo dos anos 80. Barsky e Kilian (2002) [110] sugerem que a década de 1970 foi diferente das décadas precedentes e seguintes devido à ausência de restrições efetivas à política monetária. Eles documentam que o início e o final da década de 1970 coincidiram com grandes mudanças nos regimes de política monetária. A mudança inicial em direção a um regime de política monetária menos restritivo tornou-se aparente com o colapso de Bretton Woods, que afrouxou as restrições remanescentes à política monetária nacional. Como resultado, a política monetária perdeu sua âncora” [108].
A estagflação representou a derrocada do pensamento neo-keynesiano, uma vez que ele se mostrou incapaz de prever um fenômeno como esse. Nas palavras de Sargent e Lucas: “Nosso primeiro e mais importante ponto é que os modelos macroeconométricos keynesianos existentes não podem fornecer uma orientação confiável na formulação de políticas monetárias, fiscais ou outros tipos de política. Esta conclusão é baseada em parte nas espetaculares falhas recentes desses modelos e em parte na falta de uma base teórica ou econométrica sólida. Em segundo lugar, no último terreno, não há esperança de que pequenas ou mesmo grandes modificações desses modelos levem a uma melhoria significativa em sua confiabilidade” [111].
É nesse cenário que aparece a crítica de Lucas, que tem esse nome por ter sido feita por Robert Lucas Jr. (1937-) no seu artigo “Econometric Policy Evaluation: A Critique” [112]. Lucas critica o uso de dados históricos como única base para considerar os efeitos da política macroeconômica, fazendo um apelo para se considerar também as expectativas dos agentes. Os modelos macro deveriam considerar que os agentes têm expectativas racionais em relação às informações que contêm sobre política econômica.
A implicação do uso de expectativas racionais, segundo Blanchard [89]: “era de que os modelos macroeconômicos existentes não podiam ser usados para ajudar a formular a política econômica. Embora esses modelos reconhecessem que as expectativas afetavam o comportamento, não incorporavam as expectativas de maneira explícita. Supunha-se que todas as variáveis dependiam de valores atuais e passados de outras variáveis, inclusive as variáveis de política econômica. Portanto, o que os modelos captavam era o conjunto de relações entre variáveis econômicas que valiam no passado, sob políticas econômicas passadas. Se essas políticas fossem alteradas, argumentava Lucas, a maneira como as pessoas formavam as expectativas também se alteraria, tornando as relações estimadas — e, consequentemente, as simulações geradas com o uso dos modelos macroeconométricos existentes — guias pobres quanto ao que aconteceria sob essas novas políticas econômicas. Essa crítica dos modelos macroeconométricos ficou conhecida como crítica de Lucas. Tomando […] a história da curva de Phillips como exemplo, os dados até o início da década de 1970 sugeriam um dilema entre desemprego e inflação. À medida que os formuladores de política econômica tentaram explorar esse dilema, ele desapareceu”.
3.11. A Escola Novo-Clássica
Em resposta às falhas da escola neo-keynesiana e à alta inflação e desemprego na década de 70 surge a Escola Novo-Clássica. Como afirmam Greenwald e Stiglitz: “Em termos gerais, havia duas maneiras pelas quais as abordagens alternativas [keynesianas e não-keynesianas] poderiam ser reconciliadas: adaptar a macro-teoria à micro-teoria, ou vice-versa. A Nova Economia Clássica adotou a primeira abordagem. Argumentou que o que havia de errado com a macroeconomia era a ausência de micro-fundações rigorosas. Seus defensores partiram de um ambicioso programa de pesquisa, que derivava o comportamento dinâmico e agregador da economia dos princípios básicos de racionalidade e maximização de empresas e indivíduos. Essa escola reconheceu a importância da dinâmica para entender o macrocomportamento, e assim reconheceu o papel central das expectativas na determinação do comportamento dinâmico. Concentrou sua atenção, então, nas consequências da formação de expectativas racionais, e é esse aspecto de seu trabalho que deu à escola seu nome alternativo, Escola da Expectativa Racional” [113].
Ou seja, munidos com expectativas racionais, os Novo Clássicos viram a necessidade de micro-fundamentar os modelos macroeconômicos de modo a melhor entender a economia. Segundo Froyen: “O princípio central de política da economia novo-clássica é que a estabilização de variáveis reais, como produto e emprego, não pode ser alcançada pelo gerenciamento da demanda agregada. Os valores dessas variáveis, tanto no curto quanto no longo prazo, são insensíveis às políticas sistemáticas de gerenciamento da demanda agregada. Em outras palavras, na nova visão clássica, ações sistemáticas de política monetária e fiscal que alterem a demanda agregada não afetarão o produto e o emprego, mesmo no curto prazo. Isso foi denominado a proposição de ineficácia da política nova clássica” [114].
O programa de pesquisa novo clássico se propôs a microfundamentar os fenômenos macro, partindo da ideia de que os agentes econômicos otimizam sua utilidade formando expectativas racionais e que o mercado tem um ajuste automático. Sendo assim, os novos clássicos veem com desconfiança a hipótese de salários rígidos, e consideram que o mercado de trabalho é como o de leilões.
Como consequência desse programa de pesquisa tem-se o desenvolvimento do modelo dos Ciclos Reais de Negócios (Real Business Cycle – RBC). Este modelo foi desenvolvido por Finn E. Kydland (1943-) e Edward C. Prescott (1940-) no clássico artigo “Time to Build and Aggregate Fluctuations” [115]. Baseando-se nos pressupostos novo-clássicos, esses economistas, que viriam a receber o Prêmio Nobel de Economia, desenvolveram um modelo em que os ciclos de negócio podem ser explicados como um fenômeno de equilíbrio e cujas flutuações econômicas, segundo Froyen, são “decorrentes de variações nas oportunidades reais da economia privada [116]. Os fatores que causam tais mudanças incluem choques tecnológicos, variações nas condições ambientais, mudanças nos preços reais (relativos) das matérias-primas importadas (por exemplo, petróleo bruto) e mudanças nas taxas de impostos. Flutuações na produção também ocorrem com mudanças nas preferências dos indivíduos – por exemplo, uma mudança na preferência por bens em relação ao lazer. Esses são os mesmos fatores que determinaram a produção no modelo clássico. Mas os economistas clássicos acreditavam que, na maior parte, esses fatores mudavam lentamente com o tempo. No curto prazo, eles foram tomados como dados. Eles eram os fatores que determinariam o crescimento a longo prazo. Os teóricos do ciclo econômico real argumentam que essas variáveis do lado da oferta também são a fonte de flutuações de curto prazo na produto e no emprego” [114].
Então em termos de policy caberia ao Banco Central ter uma política monetária seguindo regras de forma a ser crível. Para os teóricos do RBC, a política fiscal poderia afetar o produto e o emprego, mas não por via da demanda agregada como no modelo keynesiano, mas sim via efeitos do lado da oferta, de modo que caberia ao governo minimizar as distorções dos impostos.
Fazem parte da Escola Novo-Clássica Robert Lucas Jr. (1937-), Thomas Sargent (1943-), Robert Barro (1944-) e os já citados Finn E. Kydland (1943-) e Edward C. Prescott (1940-).
3.12. A Escola Novo-Keynesiano
Como argumenta Robert J. Gordon: “No final da década de 1970, parecia que a paisagem macroeconômica dos EUA estava sendo varrida por uma maré novo-clássica e que a economia keynesiana havia se tornado um remanso isolado. Na verdade, ainda há uma impressão generalizada de que os melhores e mais brilhantes jovens macroeconomistas marchavam quase uniformemente sob a bandeira novo-clássica no início da década de 1980. No entanto, agora é evidente que os rumores da morte da economia keynesiana foram muito exagerados. Construindo sobre as bases lançadas no final dos anos 1970 por Stanley Fischer (1977a) [117] e Edmund Phelps e John Taylor (1977) [118], um grande número de autores jovens e de meia idade na última década produziram uma torrente de pesquisas dentro da tradição keynesiana que tenta construir as bases microeconômicas da rigidez de salários e preços. O adjetivo novo-keynesiano justapõe agradavelmente esse corpo de pesquisa com seu arco-oposto, a abordagem novo-clássica” [119].
A Escola Novo-Keynesiana é uma resposta à crítica novo-clássica e à revolução das expectativas racionais. Como dizem N. Gregory Mankiw e David Romer: “Os economistas novos-clássicos argumentaram persuasivamente que a economia keynesiana era teoricamente inadequada, que a macroeconomia deve ser construída sobre uma base microeconômica firme” [120]. Os novos-keynesianos foram então buscar na microfundamentação um apoio para legitimar os conceitos keynesianos, como o conceito da rigidez de preços e salários. Como apontam Greenwald e Stigltz [113], os novos-keynesianos buscam salvaguardar algumas ideias de Keynes, tais como:
- Uma teoria geral deve explicar a persistência do desemprego;
- Uma teoria geral deve levar em conta as flutuações do desemprego;
- Poupança e investimento devem ser cuidadosamente distinguidos;
- Perturbações na demanda, não na oferta, fundamentam o comportamento cíclico dos agregados macroeconômicos.
Sendo assim, os novos-keynesianos são agrupados por compartilharem uma modelagem feita a partir da competição imperfeita. Rigidez nos preços são assumidos e, com isso, são rigidezes reais são consideradas. O uso de modelagem de equilíbrio geral dinâmico e estocástico (Dynamic Stochastic General Equilibrium – DSGE) é notável na literatura novo-keynesiana.
Como De Long [92] argumenta, o programa de pesquisa novo-keynesiano pode ser resumido por defender 5 proposições:
1. As fricções que impedem o ajuste rápido e instantâneo dos preços aos choques nominais são a principal causa das flutuações do ciclo de negócios no emprego e na produção.
2. Em circunstâncias normais, a política monetária é uma ferramenta mais potente e útil para a estabilização do que a política fiscal.
3. As flutuações do ciclo de negócios na produção são melhor analisadas a partir de um ponto de partida que as veja como flutuações em torno da tendência sustentável de longo prazo (em vez de declínios abaixo de algum nível de produto potencial).
4. A maneira certa de analisar a política macroeconômica é considerar as implicações para a economia de uma regra de política, não analisar cada episódio de um ou dois anos isoladamente como requerendo uma resposta de política única e idiossincrática.
5. Qualquer abordagem sólida para a política de estabilização deve reconhecer os limites da política de estabilização, incluindo as longas defasagens e os baixos multiplicadores associados à política fiscal e a magnitude incerta dos efeitos da política monetária.
Um dos modelos clássicos dos novos-keynesianos é o do custo de menu, elaborado inicialmente por N. Gregory Mankiw [121], que procura explicar por que existe rigidez nos preços ao apontar que existem custos na mudança desses. Um exemplo de tais custos é o de coletar informação necessária para decidir o preço ótimo; outro exemplo é o custo percebido de uma redução de preços em uma recessão que pode levar a uma guerra de preços entre firmas. Outro modelo importante é o de salário eficiente, elaborado inicialmente por Shapiro e Stiglitz [122], que explica o motivo pelo qual as firmas podem fixar salários acima do equilíbrio de mercado (por exemplo, o aumento salarial pode servir de incentivo para os trabalhadores serem mais eficientes, dado os custos de monitoramento).
A Escola Novo-Keynesiana é um todo complexo com diversas modelagens, mas que podem ser agrupadas pela microfundamentação da macroeconomia e pelos insights keynesianos. Tais modelagens trabalham com competição imperfeita e expectativas racionais, se opondo aos novos-clássicos. Para saber mais sobre essa escola em seus pormenores, recomendamos o artigo do Gordon [119]. Dessa escola fazem parte John B. Taylor (1946-), Stanley Fisher (1943-), N. Gregory Mankiw (1958-), Joseph Stiglitz (1943-), entre outros.
3.13. A nova síntese neoclássica
Como escreve Abadallah Zouache: “Uma nova síntese neoclássica está surgindo (Goodfriend e King 1997) [123]. E, quando isso acontecer, a macroeconomia vai rejeitar as querelas teóricas e metodológicas das últimas décadas. A Nova Síntese Neoclássica definirá os contornos do sucessor do modelo IS-LM. Mesmo que seja muito cedo para sustentar que há um acordo completo sobre a natureza da futura Síntese Neoclássica, cada vez mais macroeconomistas consideram possível tal futura síntese, vista como uma extensão ‘natural’ do consenso que prevalece sobre o entendimento dos principais mecanismos macroeconômicos” [124].
A nova síntese neoclássica emergente nada mais é que a convergência dos modelos novo-clássicos com os novo-keynesianos, algo que se tornou particularmente visível durante a década de 90 e começo dos anos 2000. Para Goodfrey e King [123] tal síntese incorpora: a) modelos macroeconométricos de larga escala; b) hipótese de rigidez dos modelo IS-LM; c) princípios básicos advindos de Lucas, como substituição intertemporal e expectativas racionais; e d) insights monetaristas sobre teoria e prática da política monetária.
Segundo Froyen: “Os teóricos dos ciclos econômicos reais e os novos economistas keynesianos compartilham o desejo de colocar a macroeconomia em uma base microeconômica sólida. Nos primeiros anos do século XXI, isso levou a uma convergência considerável entre as duas escolas. […] Muitas análises de políticas modernas são realizadas em modelos que combinam elementos dessas duas escolas. Esses são modelos em que os agentes otimizam, mas algum tipo de rigidez (geralmente um custo de menu) é incorporado. É criado um papel para a política, a saber, fazer com que a economia se comporte como o faria na ausência de rigidez. Para alguns keynesianos, esses modelos vão longe demais ao incorporar outros elementos da teoria do ciclo de negócios real (por exemplo, expectativas racionais), mas para muitos economistas eles formam um meio-termo feliz” [114].
Todavia, com a Grande Recessão consequente da crise de 2008, mais e mais aparenta que a síntese foi abalada. Alguns economistas pedem pela volta das ideias de Keynes, outros ficam contentes com a integração de elementos do RBC com elementos keynesianos microfundamentados. O verdadeiro resultado da crise ainda está para ter seu veredito. Enquanto isso, o mainstream persiste cada vez mais alargando as fronteiras do nosso conhecimento econômico.
4. Conclusão
Como vimos, o mainstream constitui o trabalho que acontece na fronteira da pesquisa econômica. Ele é constituído pelas ideias que são assumidas e defendidas pelos pesquisadores e professores que pesquisam e lecionam nas principais instituições acadêmicas e organizações e publicam nos principais periódicos. O mainstream na verdade deve ser visto como um corpo de conhecimento dinâmico e complexo em que várias ideias são testadas sob um mesmo viés metodológico (mas isso pode ser relaxado).
Enquanto o mainstream é forward looking (olha pra frente) a ortodoxia é backward looking (olha para trás), ou seja, constitui um conjunto estático de ideias que ficaram na fronteira. A ortodoxia é a escola de pensamento dominante que é constituída pelas proposições, teoremas e demais conhecimentos que ficam acumulados nos livros-textos de graduação e/ou pós. Já neoclássico é um termo complicado, pois seu uso é inconsistente, mas é melhor representado por uma escola de pensamento que durou de 1870 (ou 1890) até 1930, sucessora da escola clássica e da revolução marginalista e antecessora da revolução keynesiana e da síntese neoclássica.
O mainstream é constituído principalmente de um dedutivismo matemático herdado dos neowalrasiano, cujo projeto de pesquisa, embora com muitas alterações, ainda perdura em espírito na microeconomia. Já na macro se encontra uma nova síntese neoclássica, algo que pode ser relaxado como consequência da Grande Recessão.
Esse texto mostrou o que é o mainstream moderno e a sua evolução histórica. Esperamos que o leitor tenha saído satisfeito com a explicação dada sobre esse corpo de conhecimento que estuda o ser humano, sua relação com a escassez e com o mundo.
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