Top 10 maiores milagres econômicos da história: 7 – O Milagre Econômico Grego

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Contexto e antecedentes

Para compreender além do nível básico o que foi o Milagre Grego, é necessário também entender o contexto onde ele foi germinado, por isso neste caso teremos de dividir esta seção em duas subseções, sendo elas a “Segunda Guerra Mundial”, onde trataremos brevemente da ocupação do Eixo na Grécia, e a subseção da “Guerra Civil Grega”, onde trataremos das causas da mesma e suas consequências trágicas para o país.

A Segunda Guerra Mundial (1941-1945)

Apesar da neutralidade declarada pela Grécia, a mesma foi alvo do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial e acabou sendo invadida pela Itália fascista de Benito Mussolini em outubro de 1940. Tal invasão acabou gerando consequências econômicas desastrosas para o país helênico, pois os gregos tiveram de lidar com os italianos e alemães em seu próprio país, constantemente em ambientes urbanos onde moravam, trabalhavam e investiam.

Infelizmente a bravura grega não foi suficiente para conter os avanços do Eixo e o país acabou capitulando perante o exército alemão em junho de 1941 quando soldados alemães hastearam bandeira nazista na Acrópole de Atenas.

Soldados nazistas hasteiam a Bandeira de Guerra na Acrópole de Atenas, março de 1941.

As batalhas em ambientes urbanos causadas pela múltipla ocupação do país pelo Eixo (Alemanha, Itália e Bulgária) levaram a Grécia ao caos. Infraestruturas destruídas, pilhagem de alimentos e matéria-prima, empréstimos forçados (sem juros) à máquina de guerra alemã eram algumas das características do governo fantoche grego da época que levaram o país a um cenário de hiperinflação e caos.

Uma brilhante revisão de literatura de Steve H. Hanke e Nicholas Krus (2012) revelou que a inflação grega chegou a bater 13.800% mensais (out/1944), um número especialmente alto levando em consideração que a Grécia enfrentava também problemas de escassez de alimentos no seu nível mais básico, já que as propriedades rurais haviam sido confiscadas ou destruídas pelo governo fantoche estabelecido. Na tabela abaixo também é possível ter uma dimensão de como a inflação afetou o cotidiano dos gregos ao alterar drasticamente o número de Dracmas (moeda grega) emitidos para circulação no período de ocupação.

O aumento de Dracmas em circulação era um sintoma de um ambiente caótico e pouco próspero, é neste ambiente que mais um período difícil da história grega irá emergir, o período da Guerra Civil Grega.

A Guerra Civil (1946 – 1949)

A Guerra Civil Grega é um caso exemplar do quanto o vácuo de poder pode ser danoso a um país e suas instituições, pois a mesma é um resultado claro da incapacidade do governo exilado grego de exercer influência em seus assuntos domésticos.

Após a Segunda Guerra Mundial, o governo grego encontrou dificuldades para voltar a governar e exercer sua legitimidade enquanto autoridade, pois durante a ocupação demonstrou sua incapacidade de influenciar a Grécia em seus assuntos domésticos ou mesmo assegurar apoio à resistência grega diante a ocupação ítalo-alemã. Tal falta de “força” gerou uma sensação de deslegitimidade do governo quando a guerra finalmente findou-se.

As diversas resistências gregas haviam encontrado outras formas de exercer poder, principalmente a resistência comunista que rejeitou a ideia do status quo Ante Bellum através do boicote às eleições parlamentares em março de 1946 e a recusa de entregar as armas ao Exército.

Imediatamente após a recusa de entregar as armas, o conflito escalou para uma situação de guerrilha onde propriedades rurais já em situação precária eram alvos constantes. O governo monárquico solicitou ajuda estrangeira e obteve apoio britânico e americano, que por sua vez obteve sua resposta com a intensificação do apoio soviético e iugoslavo.

Apesar do inicial sucesso das forças comunistas através de táticas de guerrilhas, o exército helênico provou maior eficiência quando o conflito tornou-se uma “guerra convencional” e mostrou a falta de fôlego das forças comunistas, que não conseguiam recrutas e sofriam as consequências do desentendimento entre Stalin e Tito em 1948. Com isso, as forças monárquicas conseguiram estabelecer formalmente seu governo em 1949.

Entretanto, a guerra legou um caos social e econômico, pois durante ela milhares de pessoas foram forçadas a abandonar suas terras e propriedades. Também foi deixada de herança uma rusga política polarizadora que dividia a sociedade grega e dificultava sua cooperação para uma recuperação.

O Herói Grego (1950)

Paul R. Porter, representante da Economic Cooperation Administration (ECA) na Grécia, reiterou numa reunião de staff em setembro de 1949 que os problemas da Grécia eram administráveis, mas complicados e significativamente diferentes dos outros países europeus que receberam ajuda financeira dos EUA. De fato, Porter não estava errado: os problemas gregos, apesar de complexos, não eram insolúveis. Para Porter e seu staff, a solução passava por uma base clara e nítida: a estabilidade política. As eleições de 1950 mostraram que os gregos “concordavam” com Porter ao elegerem um partido de centro-esquerda que buscava uma coalização democrática e ouvia as orientações da ECA.

Algumas das medidas econômicas tomadas por esse partido em 1950 foram: um redesenhamento do Banco Central Grego; um controle de crédito mais rígido; venda das reservas em ouro; diminuição da moeda em circulação; e controle de salários. Com isso, o custo de vida no país, apesar de alto, estabilizou-se e tornou possível que fossem feitos investimentos na infraestrutura da economia e em setores bases, tais como a construção de rodovias, indústria manufatureira e reconstituição de áreas produtivas no setor alimentício. Nota-se também que, com a venda das reservas de ouro, houve um aumento no uso do Dracma e, consequentemente, com a confiança nele depositada, o setor industrial voltou a negociar em Dracma, reavivando assim o uso da moeda no setor financeiro. Entretanto, o controle do salário mínimo grego revelou-se uma difícil política a ser mantida, pois o custo de vida subia e o salário mínimo permanecia o mesmo.

Considerando a dificuldade do Estado Grego de coletar impostos devido à Segunda Guerra Mundial e à Guerra Civil, foi feito um desenho de recuperação econômica que focava no ganho de produtividade do trabalhador médio através da melhoria da infraestrutura logística e de comunicação. Houve um redesenho do mapa rodoviário da Grécia e incrementação de centenas de quilômetros na rede de telecomunicações, que mais tarde permitiriam uma melhoria real na vida do grego médio, que há décadas vinha sofrendo sem poder descansar.

Os louros da vitória (1950-1973)

A entrada de capital estrangeiro, a recuperação da rede de comunicação e a estabilidade política deram ao trabalhador grego uma nova perspectiva de vida e, finalmente, um respiro.

Como podemos ver no gráfico abaixo, o PIB per capita grego durante o Milagre (1950-1973) experimentou um período de singular crescimento, o que foi refletido sobre a qualidade de vida do cidadão médio grego, permitindo que ele transformasse seu modo de vida.

PIB per capita da Grécia em milhares de Euros (preços constantes de 2010).

Houve também uma drástica redução no índice inflacionário e sua posterior estabilização, permitindo assim ao cidadão médio um aumento real, constante e sólido de seu poder de compra. Nota-se, entretanto, que durante os quatro primeiros anos do Milagre a estratégia utilizada foi uma desvalorização forçada da própria moeda para assim atrair investimentos estrangeiros, gerando emprego e aumento da produtividade.

Taxa anual de inflação na Grécia (1950-2016).

Por fim, nesta breve amostragem de dados, cabe também mostrar a taxa de desemprego na Grécia durante o Milagre. Infelizmente os dados mais confiáveis nos levam apenas até 1956, o que nos permite apenas observar uma certa estabilidade no índice e até mesmo uma queda já no final do Milagre Econômico.

Taxa de desemprego na Grécia (1956-2016).

Através dessa breve revisão de dados, podemos notar como o Milagre Econômico Grego foi significativo. A transformação da vida econômica que o Milagre proporcionou é um episódio único na história econômica daquele país e por isso coube ao mesmo uma posição tão especial nesta listagem de maiores milagres econômicos da história.

Fontes

Análise da hiperinflação grega entre os períodos 1940-1948
Compilado de dados acerca das hiperinflações mundiais durante a Segunda Guerra Mundial
Análise da hiperinflação grega e os esforços para contê-la entre 1943-1946
Análise acerca da hiperinflação grega e suas consequências imediatas
Compilado dos principais dados econômicos da Grécia entre 1948-2017
Estudo acerca dos esforços de estabilização da Grécia entre 1953-1961
Análise da atuação da ECA na Grécia

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