A relevância de Keynes hoje

A grande discussão relevante a respeito de Keynes é sobre a rigidez de curto prazo dos salários.

Se a moeda for totalmente neutra, os salários e preços precisam ser totalmente flexíveis no curto prazo. Isso é, ao mesmo tempo que o governo está expandindo a oferta de moeda, salários e preços se reajustam simultaneamente, gerando inflação e nenhum ganho de emprego ou produto.

Se os salários nominais forem rígidos no curto prazo, como supunha Keynes, essa expansão vai levar primeiro a uma pequena subida dos preços, que corresponderá a um aumento das margens de lucro das empresas. Antes que os trabalhadores consigam reajustar seus salários, as empresas já terão usado essa folga nos lucros para contratar mais e expandir a produção. A expansão monetária geraria um pouco de inflação e de emprego.

Nós sabemos que os salários tendem a ser rígidos em algumas circunstâncias, então Keynes de fato tinha alguma razão. Mas também sabemos que outros fatores que Keynes não considerou, como as expectativas, podem ao longo do tempo bagunçar a rigidez dos salários.

Se os trabalhadores aprendem com a inflação passada a esperar inflação futura, eles passam — depois de uma política expansiva — a pedir reajuste de salários como precaução. Nesse caso, o governo teria que estar sempre expandindo a oferta de moeda para continuar elevando o emprego, gerando uma inflação permanentemente crescente. No fundo, foi isso que Milton Friedman percebeu e formalizou.

Quando você passa a supor que os trabalhadores não apenas aprendem com o passado, mas também entendem as consequências futuras de uma expansão monetária (expectativas racionais), teremos um quadro ainda mais grave: em qualquer sinal de que o governo irá expandir a oferta de moeda, sindicatos pressionam por reajustes, o nível de preço sobe. Nesse caso, o governo passaria a ter que expandir a oferta de moeda pra não gerar uma recessão, alimentando a inflação sem nenhum efeito na demanda, no emprego e na renda.

O quanto os salários são rígidos e em quais circunstâncias? O quanto as expectativas podem atrapalhar os planos do governo? Essa é a discussão relevante.

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