Poucas pessoas têm a noção correta do quanto a vitória sobre a inflação durante o Plano Real representou em matéria de combate à miséria. Primeiro precisamos entender que a inflação funciona como um tributo: quando os preços sobem, o governo desvaloriza seu passivo em poder do público (base monetária), obtendo através disso margem fiscal adicional para realizar seus gastos. Na macroeconomia este mecanismo é conhecido como imposto inflacionário.
Ocorre que o imposto inflacionário é extremamente regressivo, penalizando desproporcionalmente os mais pobres. A camada mais vulnerável da população está, em geral, no setor informal, e não tem acesso ao mercado financeiro para se proteger da inflação através de instrumentos como a correção monetária. Além disso, por incidir sobre consumo, o problema é muitíssimo agravado.
Resumidamente: a hiperinflação brasileira, como qualquer fenômeno de descontrole inflacionário, era uma formidável instituição criadora de miséria, transformando os salários das classes menos abastadas em pó, mês após mês.
O controle da inflação, como era de se esperar, reduziu significativamente a miséria em todo país, mas foi quase um milagre para o Nordeste. Em 1993, 42% dos nordestinos estavam na extrema pobreza pelo critério das calorias diárias. Apenas 2 anos depois essa parcela caiu para 32%. Pode parecer pouco, mas uma queda desta magnitude implica em literalmente milhões de pessoas passando a ter nutrição apropriada em um curto espaço de tempo, apenas porque os preços pararam de subir 30%, 40% ao mês. Mais precisamente, foram 4,3 milhões de nordestinos entre 1993 e 1995.
Apesar dos grandes avanços entre 1995 e 2014, nada na história brasileira tirou tanta gente da miséria absoluta em tão pouco tempo como o Plano Real.
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