Exemplificando a importância das “regras do jogo”

Você é o gerente da empresa A que, assim como a empresa B, opera fazendo publicidade em determinada rodovia. Seu diretor de marketing acabou de te apresentar duas estratégias distintas:

1) Fazer uma placa bonita e visualmente agradável, mas não tão próxima à rodovia e nem tão chamativa (NAP). Esta é a estratégia preferida dos consumidores.

2) Fazer uma propaganda chamativa e colada à rodovia, mas nem tão bonita e visualmente agradável assim.

O gerente da empresa B enfrenta a mesma escolha e irá decidir em separado. Está bem claro para ambos que a vantagem de uma propaganda chamativa é apenas relativa, ou seja, para chamar atenção em relação a outro concorrente. Caso um de vocês operasse sozinho, não haveria dúvida: A estratégia agradável (NAP) seria aplicada.

Na imagem abaixo, temos as possíveis combinações e as respectivas expectativas de lucro pra cada firma.

Quando ambos optam pela propaganda agradável (NAP), cada um lucra 5 unidades. A soma dos lucros é 10. Quando um opta pela propaganda chamativa (AP) e outro pela agradável (NAP), o que decidiu por chamar atenção acaba capturando a maior parte da atenção dos motoristas, lucrando 7, enquanto que o outro fica com 2. A soma dos lucros cai para 9. Quando ambos decidem pela estratégia chamativa, lucram 4, somando 8.

O que você escolheria tendo apenas estas informações?

Se você pensa de forma racional, escolherá a estratégia chamativa (AP). Sim, porque esta estratégia te permite lucrar 4 ou 7 dependendo da estratégia (desconhecida) do outro gerente, enquanto que optar pela estratégia agradável (NAP) te permite lucrar apenas 2 ou 5. O equilíbrio Nash para este jogo é, portanto, AP por parte de ambos os jogadores, onde cada um lucra 4 e soma dos lucros é 8. Não precisa de muito pra perceber que este resultado não é Pareto eficiente, dado que não é a combinação que maximiza a utilidade dos produtores e consumidores. No final das contas, a ação individual, racional e auto interessada de cada um levou a um resultado pouco vantajoso para todo mundo.

No mundo real os gerentes provavelmente perceberiam que a cooperação é o melhor caminho. Eles poderiam marcar um jantar para decidir NAP em conjunto. O problema é que nem todo problema deste tipo corresponde a um jogo de 2 players e 4 combinações em que é possível cooperar. Pense: Caso fossem 10 firmas diferentes, a quantidade de combinações possíveis seria 2^10 = 1024, mas ainda somente uma delas seria Pareto eficiente. Na medida em que esta dinâmica se torna mais complexa, a quantidade de resultados possíveis cresce de forma exponencial, enquanto que a combinação eficiente continua sendo apenas uma: Colaboração. No mundo real, com dezenas, centenas ou milhares de firmas operando em conjunto e um número inimaginável de combinações de estratégias possível, é logicamente insano esperar colaboração quando os canais de informação são quase sempre defeituosos e cada um dos agentes tem um incentivo permanente para burlar o acordo.

O curioso é que esta dinâmica explica até algumas coisas do mundo biológico, especialmente assuntos ligados à evolução.

Algumas espécies de cervos tem um fator de seleção sexual relacionado ao chifre. Os machos com os maiores chifres acabam tendo mais sucesso com as fêmeas, deixando mais descendentes. Esta vantagem relativa, entretanto, cria desvantagens absolutas. Animais com chifres muito grandes acabam tendo menos agilidade para escapar de predadores e consequentemente diminuem suas chances de sobrevivência.

A tendência é que os chifres, geração após geração, cresçam até o ponto em que os animais com os maiores chifres sejam tão pouco hábeis para escapar de predadores que não consigam deixar descendentes. Se a partir deste ponto de equilíbrio diminuíssemos por mágica o chifre de cada animal pela metade, os mais atraentes continuariam sendo mais atraentes e vice-versa, mas todo mundo teria mais chance de sobrevivência, permitindo um considerável crescimento populacional. Mas perceba: Ainda existe “incentivo” para burlar o acordo. Os descendentes com os maiores chifres continuariam tendo vantagem na seleção sexual, levando este bando, novamente, ao mesmo equilíbrio ineficiente do ponto inicial após algumas gerações.

Fazendo analogia com o problema levantado, temos que a poluição visual causada pelas inúmeras placas aumentaria até o ponto em que a placa mais chamativa delas fosse tão visualmente desagradável que não conseguisse obter lucro. Se, assim como na mágica dos cervos, regulássemos este fator relativo, por exemplo, aumentando a distância que as placas podem estar da rua e limitando grau de iluminação, as melhores continuariam sendo melhores e vice-versa, mas todo mundo estaria na vantagem. Motoristas teriam viagens mais agradáveis, firmas teriam propagandas mais efetivas.

É por assuntos desta natureza que as “regras do jogo” importam tanto. Pra economia de mercado nos dar o máximo benefício possível, não basta apenas garantir propriedade e contratos. Ter uma institucionalidade eficiente e em permanente evolução é essencial.

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