Introdução
O presente texto tem como intuito ser um breve resumo do que foi a Revolução Marginalista, quem foram seus principais participantes e explicar o que é a Lei da Utilidade Marginal Decrescente, de forma didática.
O paradoxo do diamante e da água
Séculos atrás existia um paradoxo muito discutido, principalmente entre os economistas. Era o famoso paradoxo do diamante. Este paradoxo foi originalmente enunciado por Adam Smith, e consistia no seguinte, segundo o próprio Smith:
“Não há nada de mais útil que a água, mas ela não pode quase nada comprar; dificilmente teria bens com os quais trocá-la. Um diamante, pelo contrário, quase não tem nenhum valor quanto ao seu uso, mas se encontrará frequentemente uma grande quantidade de outros bens com o qual trocá-lo.”
Podemos ver que basicamente a questão é entender a razão do diamante ser muito mais valioso que a água, tendo em vista que água é um bem essencial para a vida humana e o diamante não. Teria isso algum sentido?
A Revolução Marginalista
Três economistas conseguiram responder essa pergunta: William Stanley Jevons (1835-1882) em sua obra “A Teoria da Economia Política” (1871), Carl Menger (1840-1921) na obra “Princípios de Economia Política” (1871), e Léon Walras (1834-1910) na obra “Elementos da Economia Política Pura” (1874). Um fato curioso é que eles elaboraram essa teoria de forma diferente, em lugares distintos, sem trabalharem juntos e em épocas próximas. Mas mesmo com suas diferenças na forma como chegaram à conclusão, a conclusão foi praticamente a mesma. Esse acontecimento ficou conhecido como a Revolução Marginalista.
Resolvendo o paradoxo
A teoria elaborada por eles foi posteriormente nomeada por Friedrich von Wieser (1851-1926) de “teoria da utilidade marginal”. A partir dessa teoria, vamos resolver juntos o paradoxo do diamante e da água.
Antes de qualquer coisa, lembremos que cada pessoa valoriza os bens de maneira diferente. E, quando consumimos bens iguais repetidamente, valorizamos mais o primeiro do que os outros. Isso acontece porque, conforme vamos consumindo, a nossa necessidade vai sendo suprida, e quando consumimos novamente, estamos agora com uma necessidade menor, portanto, teremos menos satisfação do que na primeira vez.
O paradoxo acontece devido a dois fatores:
A necessidade que temos de um bem e a sua disponibilidade. Como explicado no meu vídeo sobre preços, os preços estão sujeitos a tendências que os “puxam” para cima e para baixo, e a sua mudança surge do resultado dessas “forças”. Quanto maior a demanda por um bem, mais o seu preço tende a aumentar, e quanto mais disponível ele está, seu preço tende a diminuir.
Sobre a necessidade: a importância da água na nossa vida é muito maior que a do diamante. A água nos serve não somente para beber, mas também tem inúmeros outros usos. Já o diamante tem menos serventia, e geralmente é usado para diversos fins, como por exemplo fins estéticos como joias. Mas mesmo o diamante sendo útil, é seguro afirmar que a água é mais útil, visto que sem ela nem sequer existiríamos. Porém apesar da maior utilidade da água, o diamante é muito mais caro, ou seja, as pessoas pagam muito mais por uma certa quantidade de diamante do que por uma certa quantidade de água.
É importante notar que a quantidade de água no mundo é muito superior à de diamante. Logo, tende a ser muito mais simples encontrar água. Se a quantidade de água disponível fosse semelhante à quantidade de diamante, não haveria dúvidas que a água seria muito mais valiosa.
Feita essa observação, abordemos agora a lei da utilidade marginal. A lei resume-se no seguinte:
“Quanto maior é a oferta de um bem, a tendência é que sua utilidade marginal seja menor; quanto menor a oferta de um bem, a tendência é que sua utilidade marginal seja maior.”
A utilidade marginal analisa o que ocorre ao consumir bens iguais repetidamente. A palavra “utilidade” refere-se ao quanto um bem é capaz de nos satisfazer, e a palavra “marginal” refere-se à última unidade consumida. Portanto, a utilidade marginal diz respeito a quanta satisfação sentimos ao consumir uma unidade adicional. Não confunda isso com utilidade total. Um exemplo: se estamos com sede e tomamos 3 copos d’água, a utilidade total é a satisfação que sentimos ao beber os 3 copos, e a utilidade marginal é a satisfação que cada copo nos fornece individualmente. Repare que são dois conceitos diferentes: não está sendo dito que as pessoas valorizam mais todo o diamante do que toda a água (utilidade total). O que está sendo dito é: apesar da água ser mais importante, nós a temos em grande quantidade e não é difícil ter acesso a mais água.
Portanto, de modo geral, receber um pouco de água a mais não nos acrescentaria grande satisfação e perder um pouco de água não seria uma grande perda. Por outro lado, diamantes são raríssimos. Isso significa que ganhar um a mais, quando se tem pouco, é visto com grande valor, e perder um (quando se tem pouco) é uma perda considerável. Dessa forma, a maneira correta de interpretar a utilidade marginal é comparar as novas unidades de um bem qualquer com a quantidade que já se tem anteriormente.
O diamante tem uma utilidade marginal muito maior que a água, mas caso a oferta de diamante aumentasse, sua utilidade marginal teria a tendência de diminuir. E essa é a resposta do paradoxo do diamante: existem mais pessoas competindo para comprar um pouco de diamante do que um pouco de água. Não se engane, existem muito mais pessoas dispostas a comprar água do que diamante, porém a água está muito mais disponível, de forma a compensar mais para o lado da abundância, não havendo muita competição pela compra de água. E existem menos pessoas dispostas a comprar diamante, porém existe menos diamante disponível, de forma a compensar para o lado da escassez, havendo maior competição pela compra.
Em resumo: o diamante é mais caro porque sua utilidade marginal é maior.
Conclusão
Espero que com esse breve resumo eu tenha conseguido demonstrar um pouco a importância da Revolução Marginalista. Acho importante ressaltar que existem muitos detalhes que não foram abordados por se tratar de um resumo para iniciantes.
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