Douglass North foi um dos maiores especialistas na área de desenvolvimento econômico, considerado um dos pais da economia institucional, sendo premiado em 1993 com o Nobel de Economia por seus trabalhos nessa área. Em seu livro “Instituições, Mudanças Institucionais e Desempenho Econômico”, esse autor aborda como o desenho institucional (as regras legais que norteiam a sociedade) impactam no desempenho econômico das nações.
Vou trazer aqui alguns trechos do livro a respeito da América Latina que elencam algumas das causas do nosso atraso, demonstrando uma relação clara entre ideologia e desepenho da economia.
“Com direitos de propriedade frágeis, leis aplicadas precariamente, barreiras à entrada e restrições monopolísticas, as empresas em busca de maximização dos lucros tenderão a trabalhar com horizonte temporal curto, pouco capital físico e pequenas escalas. Grandes empresas com capital físico substancial somente vão subsistir debaixo do guarda-chuva da proteção governamental mediante subsídios, proteção tarifária e propinas para o regime. Trata-se de uma combinação que dificilmente leva à eficiência produtiva.”
“Os rendimentos crescentes característicos de um conjunto inicial de instituições que ensejam desincentivos a atividade produtiva vão gerar organizações de grupo de interesse que esperam se beneficiar com os condicionamentos vigentes.”
“Os constructos subjetivos dos participantes vão gerar uma ideologia que justifique não só a estrutura da sociedade como seu funcionamento precário. Em consequência, a economia irá gerar políticas que reforçam os incentivos e as organizações existentes. Dessa maneira, tanto os estudos da comissão Econômica da América Latina e o Caribe (Cepal) como a teoria da dependência explicam o desempenho ruim das economias latino-americanas com base nos termos de trocas com os países industrializados e em outras condições externas àquelas economias. Uma explicação dessa ordem não somente justifica a estrutura das economias latino-americanas, mas ainda contém implicações diretivas que reforçariam quadro institucional vigente.”
Ou seja, o constructo ideológico desenvolvimentista, pós-keynesiano e até marxista tanto é reflexo como contribui, até hoje, para perpetuar e fortalecer um desenho institucional ineficiente, que propaga nosso atraso econômico, pois não favoreve o crescimento do mercado.
O esquema abaixo desenha bem a relação entre a cultura da sociedade (modelos mentais e crenças compartilhadas) e o impacto que isso tem no marco institucional e no desenvolvimento econômico.
Referências
NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
LOPES, Herton Castiglioni. Instituições e crescimento econômico: os modelos teóricos de Thorstein Veblen e Douglass North. Rev. Econ. Polit., São Paulo , v. 33, n. 4, p. 619-637, Dec. 2013.
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Publicado originalmente aqui.
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