O que determina a riqueza: instituições ou distribuição setorial?

94% da pauta exportação de Bangladesh é composta de produtos manufaturados. Pra efeito de comparação, isso representaria apenas 14% na composição das exportações australianas, pesando menos inclusive do que os produtos agrícolas. Quando combinados, mineração e agropecuária representam 74% das exportações do país oceânico. Como todos sabemos, Bangladesh é um país miserável e a Austrália é um país rico e desenvolvido.

Isso significa que a Austrália é rica porque exporta commodities e Bangladesh é pobre porque exporta manufatura? É óbvio que não. Existem países ricos que também exportam basicamente manufatura, como a Coréia do Sul, assim como existe uma imensidão de país pobre exportador de commodities, como a Angola. O fato é que nem a riqueza da Austrália ou da Coreia do Sul, e nem a pobreza de Bangladesh ou da Angola, vieram de suas aptidões setoriais.

Austrália e Coreia do Sul têm excelentes ambientes de negócio, poucos problemas de ordem institucional (funcionamento dos poderes, da moeda, dívida pública, etc) e populações muito bem educadas. O mesmo não pode ser dito de Bangladesh ou Angola. Quando olhamos com atenção para uma ampla gama de países, percebemos que estes fatores estruturais são muito mais relevantes para explicar suas disparidades de renda do que as especializações setoriais.

Um fator que explica bem o porquê de Bangladesh exportar manufatura e Austrália exportar commodities é a abundância relativa de cada país de determinados fatores de produção. Bangladesh tem uma enorme população confinada em um espaço minúsculo, ou seja, é extremamente abundante em mão-de-obra. Já a Austrália é o inverso: uma pequena população dispersa em um continente, ou seja, são extremamente abundantes em recursos naturais. Como prevê o modelo Heckscher-Ohlin, cada país irá se especializar em bens e serviços intensivos nos fatores que tem maior abundância relativa a outros países. De certa forma, os elementos geográficos são muito mais relevantes para prever as especializações dos diversos países no comércio exterior do que seus níveis de produtividade e renda.

A vasta evidência acumulada sobre crescimento econômico nos indica que se o Brasil tiver todos esses elementos que Austrália e Coréia do Sul têm em comum, seremos ricos, seja produzindo o que a Coreia produz ou o que a Austrália produz. O nosso foco não deveria ser setorial, mas sim em consertar os problemas que prejudicam a nossa produtividade em todos os setores. Ou seja, melhorar o nosso ambiente de negócios, nossas instituições e nossos níveis educacionais.

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