Fundamentos 03 – Contagem (parte 01)

“Counting can become quite subtle, and in this chapter we explore some of its more sophisticated aspects. Our goal is still to answer the question ‘How many?’ but we introduce mathematical techniques that bypass the actual process of counting individual objects”

página 65

Todos os posts dessa série estão compilados em um pdf disponível no meu github. Link para download.

Listas

Uma lista é uma sequência ordenada de objetos. Esses objetos são mantidos entre um par de parênteses e separados por vírgulas. Os objetos dentro de uma lista são chamados de “entrada” (do original, “entries“). Já que uma lista é uma sequência ordenada, é evidente que a ordem dos seus elementos é suficiente para distinguir listas que contenham os mesmo objetos.

(a,b,c) \neq (c,b,a)

Comentário: Também é comum escrever uma lista sem os parênteses e as vírgulas. Esse formato de escrita se chama string. Nesse caso (a,b,c) é a mesma coisa de abc. Essa outra maneira só é usada quando não há risco de confusão entre as entradas da lista. Fique ligado e mantém essas duas formas de escrita como padrão.

Como já vimos conjuntos no capítulo 01, podemos usá-los para comparação. No caso dos conjuntos, a ordem dos elementos não importa na comparação. Ou seja, \{a,b,c\} = \{c,b,a\}. Já vimos acima que essa propriedade não é mantida nas listas. Diferentemente dos conjuntos, uma lista pode ter entradas repetidas sem nenhum problema. A lista (a,a,a,a,b), por exemplo, é perfeitamente aceitável. Tal qual a cardinalidade dos conjuntos, nós contamos quantas entradas existem em uma lista. Chamamos essa medida de comprimento. A lista (a,a,a,a,b) possui um comprimento de 5.

Regra: Duas listas são iguais se possuírem exatamente as mesmas entradas nas mesmas posições. Ou seja, também possuem o mesmo comprimento.

Existe somente uma lista cujo comprimento é igual a zero. Denominamos essa lista de lista vazia. Denotada por (). Sim, lembra muito o conceito de conjunto vazio.

O Princípio da Multiplicação

Existem muitos problemas práticos que envolvem a contagem do número possível de listas que satisfazem uma determinada condição ou propriedade. Por causa disso, vamos aprender uma maneira de trabalharmos essa questão sem precisar ficar escrevendo todas as listas possíveis antes de contar os resultados.

Fato (Princípio da Multiplicação):
Suponha que em uma lista de comprimento n exista a_1 escolhas possíveis para a primeira entrada, a_2 escolhas possíveis para a segunda entrada, a_3 escolhas possíveis para a terceira entrada, etc. Então, o total de listas diferentes que podem ser geradas por essas entradas será igual ao produto entre a_1 \times a_2 \times a_3 \times \dots \times a_n.

Dica: Nas páginas 67 e 68 do livro, o professor coloca dois exemplos que tornarão esse conceito abaixo bem mais entendível. Se você não entender como esse fato é evidente, dá uma olhada no livro e volta aqui.

Embora no livro não seja dada uma demonstração desse princípio. Eu acho que podemos tentar provar que essa afirmação é verdadeira. Não se preocupe se você não conseguir entender essa demonstração agora. Volte quando estiver mais adiantado no curso e tente novamente.

Demonstração (Princípio da Multiplicação):
Começaremos com a proposição P(m): “Se existirem m \in \mathbb{N} conjuntos A_i com n_i elementos em cada conjunto onde i \in \{1,2,\dots,m\}. O Cardinal do produto cartesiano de todos os m conjuntos será igual à multiplicação de todos os m cardinais |A_i|, ou seja, |A_1 \times A_2 \times \dots \times A_m| = \prod_{i = 1}^{m}\limits | A_i | .

Essa proposição é equivalente ao enunciado do princípio da multiplicação. (Você consegue ver essa equivalência?)

Quando m = 1, temos apenas o conjunto A_1 que possui n_1 elementos. Portanto, o cardinal de todos os m = 1 conjuntos é igual ao cardinal do único conjunto (|A_m| = |A_1|). Com isso, vemos que P(1) é verdadeira.

P(2): “Se A_1 e A_2 são conjuntos finitos onde A_1 contém n_1 elementos e A_2 contém n_2 elementos, então o conjunto A_1 \times A_2 possui n_1 \cdot n_2 elementos”.

A demonstração dessa proposição é simples. Para cada um dos n_1 elementos a \in A_1 na primeira coordenada do par ordenado (a,b) \in A_1 \times A_2, existem exatamente n_2 elementos b \in A_2. Uma vez que existem n_1 elementos em A_1 que podem ser essa primeira coordenada do par ordenado (a,b), então existem ao todo n_1 \cdot n_2 possíveis pares ordenados no produto cartesiano A_1 \times A_2.

Agora vamos fazer uma pequena adaptação nessa demonstração para qualquer quantidade de conjuntos, ou seja, para qualquer P(m) cujo m > 2.

Suponha que agora temos 3 conjuntos: A_1, A_2 e A_3. Para podermos demonstrar P(3): “Se A_1 \times A_2 \times A_3, então o cardinal será n_1 \cdot n_2 \cdot n_3” só precisamos da seguinte linha de pensamento: podemos definir um novo conjunto B = A_1 \times A_2. Desse modo, podemos reescrever o cardinal anterior como B \times A_3. Essa nova reescrita possui apenas dois elementos. Portanto, podemos usar a proposição já demonstrada P(2) sem nenhum prejuízo.

Aplicando esse mesmo procedimento para qualquer m > 2 fica demonstrado que o cardinal de quaisquer conjuntos A_i para qualquer i \in \{1,2,\dots,m\} será a multiplicação do cardinal dos conjuntos A_i. Aplicando a equivalência da proposição P(m) com o princípio da multiplicação, finalizamos a demonstração. \blacksquare.

Existem dois tipos de problemas que envolvem contagem de listas: problemas que possuem entradas repetidas e problemas que não permitem entradas repetidas. Nós podemos chamar as listas do segundo tipo de problema de listas não repetitivas.

Usando o princípio da multiplicação você é capaz de resolver todos os problemas envolvendo contagens de listas sem precisar ficar escrevendo as soluções possíveis, ao invés disso, você só precisa interpretar as opções de entradas na lista e usar a multiplicação.

Dica: Tente fazer os exemplos 3.1, 3.2 e 3.3 da página 69 até a 72.

Os Princípios da Adição e Subtração

Vamos ver mais dois princípios de contagem. Você já está familiarizado com eles, mas agora definiremos esses princípios usando a linguagem dos conjuntos.

Fato (Princípio da Adição):
Suponha que um conjunto finito X pode ser decomposto na união X = \bigcup_{i = 1}^{n}\limits X_i onde X_i \cap X_j = \emptyset \ \forall \ i \neq j. Então, |X| = \sum_{i = 1}^{n}\limits |X_i|.

Calma. Não é difícil de entender. O que estamos dizendo ai é: “Se X é um conjunto formado por n outros conjuntos menores de modo que nenhum desses conjuntos possui interseção entre si, então o cardinal de X será a soma dos cardinais de todos os n subconjuntos. A única novidade nessa notação é o sigma para denominar somatório (já vimos essa notação no capítulo 01).

Dica: Veja os exemplos 3.5 e 3.6 na página 75 para ter uma ideia da aplicação desses conceitos na prática.

Agora vamos ver o princípio da subtração. Você não deve ter grandes dificuldades de entender esse conceito.

Fato (Princípio da Subtração):
Se X é um subconjunto de um conjunto finito U, então |\overline{X}| = |U| - |X|. Ou seja, se X \subseteq U, então |U - X| = |U| - |X|.

Existem situações onde é mais fácil contar o total de um conjunto maior, e retirar uma parte desse total que não queremos, do que contar diretamente a parte desejada. Eu sei, está um pouco confuso. Mas a ideia é simples: usamos esse método para computar o que sobra após a retirada de algumas opções.

Dica: Dê uma lida no exemplo 3.7 novamente. A gente usa exatamente essa abordagem pra chegar no resultado.

Fatoriais e Permutações

O processo de contagem para listas não repetitivas de tamanho n é tão comum que criamos um conceito especial para lidar com esse tipo de problema. O conceito em questão é o Fatorial (n!). Antes de formalizarmos o que é o fatorial, observe o quadro abaixo.

Consegue ver como a quantidade de listas não repetitivas cresce rapidamente com apenas o incremento de 1 elemento no exemplo?. O número da última coluna é obtido pela aplicação do princípio da multiplicação. Nós chamamos esse número de Fatorial de n. Seu símbolo é esse ponto de exclamação ao lado direito do número “n!” (Lemos como “n fatorial”).

Definição (Fatorial):
Se n é um número inteiro não negativo, então n! será o número de listas de tamanho n que podem ser formadas com n símbolos, sem repetições. Desse modo, temos que 0! = 1, 1! = 1. Para qualquer n > 1, então n! = n \times (n - 1) \times (n - 2) \times \dots \times 3 \times 2 \times 1 .

Dica: O exemplo 3.8 na página 79 é ótimo pra exercitar esses conceitos vistos até agora.

Outro conceito importante (que eu aposto que você viu no ensino médio e achou que nunca ia usar) é o conceito de Permutação. Quando computamos um fatorial, estamos, na verdade, contando a quantidade de listas de comprimento n que podem ser geradas a partir da mudança da ordem dos n elementos.

Atenção: Guarde na memória que o Fatorial conta o número de Permutações possíveis para n elementos via aplicação do princípio da multiplicação.

Agora vamos estender um pouco mais esse pensamento. Suponha que temos um total de n elementos. Uma permutação é uma lista de comprimento n. Mas e se não quisermos usar todos os elementos disponíveis na composição dessas listas? Para isso o autor usa o conceito de k-permutação (do original, k-permutation). Uma k-permutação será uma lista de tamanho k formada por um subconjunto dos n elementos anteriores.

Para facilitar (ou não) a nossa vida, vamos definir uma notação para situações onde queremos fazer permutações de comprimento k de um conjunto qualquer de tamanho n. Escreveremos P(n,k) para denotar essa situação. Perceba que se k = n teremos que P(n,k) = n!.

Não tem problema nenhum caso não entenda. Manda um comentário aqui com sua dúvida.

Para o caso onde k = 0 só precisamos pensar em quantas listas de comprimento 0 conseguiríamos fazer a partir de um conjunto com n elementos. Isso mesmo, só temos uma lista possível – a lista vazia ().

Para todos os casos onde k \leq n podemos calcular o número de k-permutações usando o princípio da multiplicação. Na página 81 tem uns exemplos sobre isso.

Nos casos onde k > n seria como responder algo parecido com: “Quantas lista de 4 elementos podemos fazer com 3 números”. A resposta é “zero listas”.

De modo mais geral, via princípio da multiplicação, temos que para a primeira entrada da lista de comprimento k temos sempre (n) opções. Para a segunda entrada, teremos (n - 1) opções. Para a terceira entrada teremos (n - 2) opções. Podemos ver claramente um padrão se formando. Podemos definir que o número de escolhas para a posição i \in \{1,2,\dots,k\} será (n - i + 1). Por exemplo: i = 1 \implies (n - 1 + 1) = (n) opções; i = 2 \implies (n - 2 + 1) = (n - 1) opções. Quando i = k teremos então (n - k + 1) opções.

Com isso podemos chegar em uma equação:

P(n,k) = n . (n - 1) . (n - 2) \dots (n - k + 1)

Podemos ainda transformar essa relação em outra equação. Primeiro pensemos no que essa parte direita da equação acima quer dizer. Ela se parece com a fórmula do fatorial de n mas com a diferença de “parar” em (n - k + 1). Para recuperar o formato do fatorial podemos multiplicar a equação acima por (n - k) . (n - k - 1) \dots 3 . 2 . 1 e dividir pela mesma expressão.

P(n,k) = \dfrac{n . (n - 1) . (n - 2) \dots (n - k + 1) . (n - k) . (n - k - 1) \dots 3 . 2 . 1}{(n - k) . (n - k - 1) \dots 3 . 2 . 1} = \dfrac{n!}{(n-k)!}

Depois de todas essas manipulações, podemos formalizar o conceito de k-permutações.

Fato (K-Permutações):
Uma k-permutação de um conjunto com n elementos é uma lista de comprimento k feita com elementos desse conjunto. Informalmente, podemos pensar nessa lista como fruto do “rearranjo” dos elementos desse conjunto.

O número de k-permutações de um conjunto com n elementos é denotado por P(n,k) e é dado por:

P(n,k) = n . (n - 1) . (n - 2) \dots (n - k + 1)

Se 0 \leq k \leq n, então temos que:

P(n,k) = \dfrac{n!}{(n - k)!}

Essa aula acabou muito grande, então vamos quebrar esse captítulo em duas partes. Até o próximo post!

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