Seguem abaixo alguns argumentos estritamente econômicos do porquê o Brasil pode, ao mesmo tempo, aumentar muito a produção agropecuária e também as áreas de floresta, como várias países já estão fazendo (EUA, países da União Europeia, Índia, China, Rússia):
1) Crescimento da produtividade total dos fatores (PTF)
A PTF do agronegócio brasileiro tem crescido mais de 3% ao ano nas últimas décadas, variando um pouco para mais ou para menos a depender da cultura. Quando a PTF cresce, significa que as firmas conseguem produzir mais com os mesmos insumos (terra, capital, trabalho). O grande aumento da produção, que fez o país ir de importador líquido para maior exportador líquido do mundo num passado recente, veio muito mais de um aumento da produtividade e do que da área plantada.
2) Elasticidade ao capital vs elasticidade à terra
Em um trabalho recente do governo, estimou-se que a elasticidade da produção de grãos ao capital é 92,5%, e à terra, 6,8%. Ou seja, se a gente dobrar o estoque de capital (máquinas, instalações, ferramentas) mantendo todo o resto constante, a produção aumenta 92%, já se dobrarmos a área plantada mantendo o resto constante, a produção aumenta pouco mais de 6%. O capital praticamente domina a produção.
3) Baixa relação capital/terra e capital/trabalho do agronegócio brasileiro
As lavouras brasileiras têm 3,9x menos capital por hectare e 36x menos capital por trabalhador do que as lavouras dos Estados Unidos. Até mesmo comparando com outros países em desenvolvimento, como Turquia e Rússia, temos uma agricultura pouco intensiva em capital. Existe uma possibilidade gigantesca de aumento da produção (que por sorte é muito elástica ao capital) da agropecuária brasileira apenas aumentando seu grau de mecanização.
Bem, mas se dá pra produzir tanto mais sem aumentar a área plantada, por que os agricultores simplesmente não investem?
Do ponto de vista do agricultor, sempre vai valer a pena expandir a área plantada enquanto a produtividade marginal da terra for maior do que seu custo marginal, que é praticamente nulo nas regiões preservadas (não há demanda residencial, comercial ou industrial pela terra que pressione o preço dos aluguéis). O problema é que isso causa externalidades negativas no clima e no bioma que não são capturadas pelos custos privados do produtor, então faz sentido econômico restringir o desmatamento para corrigir essa falha de mercado.
Boa notícia: ainda assim a produção pode aumentar descomunalmente se a gente melhorar o desenho do mercado de crédito para facilitar e baratear o investimento no setor.
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