O Brasil deveria se afastar da China?

Não é difícil encontrar vozes afirmando que o Brasil não precisa ter boas relações com a China, e sim com os EUA. Bem, é bom que o Brasil tenha boas relações com ambos os países, mas existem 3 motivos que talvez tornem a China um parceiro mais importante que os EUA para um país com o perfil do Brasil.

1) A China é um importador muito mais relevante de recursos naturais.

A diferença entre os produtos agrícolas e minerais que os EUA compram e vendem para o mundo é 101 bilhões de dólares negativos. Para a China este buraco é da ordem de 422 bilhões. Como o Brasil é um exportador natural de recursos naturais, há muito mais possibilidade de comércio, ao menos no curto e médio prazo, com a China, e não com os EUA.

2) A China é um grande exportador líquido de poupança

Por poupar bastante (50% do PIB em média), a China acaba mandando para outros países uma grande quantidade de recursos na forma de investimentos externos. Em 2017 o país asiático exportou 165 bilhões de dólares em poupança, sendo o terceiro do mundo neste quesito, atrás apenas da Alemanha e do Japão. Entre 2006 e 2010, a China foi o maior exportador líquido de poupança do mundo. Já os EUA são o maior consumidor de poupança do mundo, com um buraco de 449 bilhões de dólares em conta corrente. O que os americanos poupam (20% do PIB em média) não é suficiente nem para os investimentos internos, quanto mais para financiar países estrangeiros.

Para uma nação como o Brasil, que poupa historicamente pouco, tem uma taxa de juro interna alta e depende de poupança externa para financiar seu desenvolvimento, ter boas relações comerciais (e de mobilidade de capitais) com a China é mais importante do que com os EUA.

3) Mesmo desacelerando, o crescimento potencial da China é muito maior que o dos EUA

Os EUA são uma economia rica, eficiente e organizada. O crescimento é quase que inteiramente puxado pelo crescimento da produtividade dos fatores e pelo crescimento da força de trabalho, que não são grandes coisas. A expectativa de crescimento nas próximas décadas é algo em torno de 2% ao ano, variando para mais ou para menos dependendo do quanto de imigração o país receber.

Já a China ainda é uma economia em desenvolvimento, de renda média, com uma economia ainda pouco organizada e que tem muito a crescer por simples melhora na eficiência alocativa. É muito mais fácil para a China sustentar taxas maiores de crescimento nas próximas décadas caso o país faça o dever de casa no ambiente de negócios, como aparentemente já começou a fazer. Crescendo 6% ao ano nos próximos anos, é esperado que tanto a dependência de recursos naturais quanto a abundância de excedentes de poupança aumentem exponencialmente, tornando este parceiro comercial ainda mais atrativo no longo prazo.

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