O Brasil está ficando para trás

A PTF, ou produtividade total dos fatores, é uma medida de eficiência e tecnologia de uma economia. Ela diz o quanto o país consegue produzir com a mesma quantidade de capital humano (mão de obra, educação) e físico (máquinas, estruturas ). A PTF da economia americana cresce aproximadamente 1% ao ano desde 1950, de modo relativamente constante. Em termos práticos: a economia americana consegue produzir, anualmente, 1% mais em média usando a mesma quantidade de gente com o mesmo nível educacional e com a mesma quantidade de máquinas à sua disposição. O crescimento efetivo costuma ser maior porque, naturalmente, a mão de obra empregada aumenta, assim como seu nível educacional e o estoque de capital da economia. Já a nossa PTF está estagnada desde a década de 80.

É isso mesmo: praticamente todo crescimento vivido pelo Brasil desde meados de 80 veio de (1) colocar mais gente pra trabalhar; (2) melhorar a educação dos que trabalham, ou (3) aumentar a quantidade de capital por trabalhador (máquinas e afins). Entretanto, nossa capacidade de usar estes fatores continua a mesma. Deveria ser o contrário: nossa economia, em desenvolvimento, estar absorvendo tecnologia e se organizando para os níveis de eficiência que já existem, o que em tese é muito mais fácil do que “abrir caminho”, que é o que os americanos fazem. A nossa PTF era pra estar crescendo mais rápido que a deles, como ocorre nos países em desenvolvimento que estão dando certo, e de modo nenhum poderia estar estagnada. Ainda mais estar estagnada há quase quarenta anos. Este é um assunto preocupante demais.

Nós temos certeza que, se nada for feito, os brasileiros das próximas gerações vão olhar pra trás e pensar:

“Como essa geração anterior empurrou um assunto tão sério como esse com a barriga por tanto tempo? Por que não fizeram as malditas reformas que todo mundo já sabia que tinha que fazer? Por que eu tenho que viver neste curral subdesenvolvido por causa deles?”

E eles vão ter razão.

Se o Brasil fizer as reformas necessárias no ambiente de negócio que nos tornem um país normal, e nossa PTF começar a crescer 2% ou mais ao ano (o que é razoável para o nosso nível de defasagem), a gente tem a oportunidade de crescer mais de 5% ao ano durante muitos anos, mesmo com a histórica restrição de poupança e com as baixas taxas de investimento. Não seríamos um tigre asiático, nós sabemos, mas pelo menos convergiríamos aos poucos para o nível de renda dos países ricos, e isso já é muito, dada nossa história recente. Se nós quisermos viver melhor no futuro, e deixar para nossos filhos e netos um país menos pobre, este assunto é emergencial. Não dá mais para adiar o debate sobre a produtividade.

Essas reformas necessárias tornariam nossa economia capaz de fazer mais com menos. Alguns exemplos de reformas que deveríamos fazer:

1. Facilitar e agilizar o processo de pagar impostos, abrir e fechar empresa, obter alvarás, licenças de importação/exportação, contratar e demitir, etc.

2. Reforma tributária:
Diminuir as distorções setoriais e horizontalizar as alíquotas. Todos pagam os mesmos impostos e arcam com os mesmos encargos, empresas ineficientes quebram e transferem seus trabalhadores e bens de capital para as que sobrevivem. Se a gente parar de proteger empresa ineficiente e deixar que as eficientes sobrevivam, a eficiência cresce.

3. Abertura comercial:
Diminuir as obstruções ao comércio internacional. Nossos setores passam a ter acesso a melhores insumos e bens de capital, e podem elevar sua produtividade. Além disso, o aumento nos fluxos de comércio permite ganhos de especialização advindos dos retornos crescentes de escala. A eficiência cresce.

4. Reformas no mercado de crédito:
Algumas reformas têm o poder de derrubar o preço do crédito ao setor privado pelo motivo certo. Por exemplo: melhorar a recuperação de garantias. Quanto mais fácil e rápido for para o credor retomar as garantias de um cliente inadimplente, menores serão os riscos e os custos de emprestar, e menores serão as taxas de juros. Instrumentos como cadastro positivo também são importantes, assim como melhorar o marco regulatório do setor, estimulando a concorrência.

Enfim, o Brasil precisa de uma longa agenda de reformas microeconômicas, e sem elas não haverá crescimento sustentado de longo prazo. Este é um tema urgente e totalmente relacionado com as nossas vidas, de nossos filhos e netos, uma vez que o nível de compensação da mão de obra costuma estar relacionado com o da produtividade no longo prazo. Americanos não ganham bem porque os empresários lá são bonzinhos: a produtividade é que é 4x maior que a nossa.

Romper com a estagnação da produtividade é a tarefa essencial da nossa geração para que não repitamos o fracasso dos nossos pais. E para isso nós contamos com você.

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