Por que barreiras protecionistas são comuns? O caso de Cleveland

Cleveland tem hoje uma população do tamanho que tinha no início do século passado (1). Esta cidade, assim como a maioria das outras cidades industriais tradicionais do nordeste e meio-oeste americano, passou por um grande processo de declínio da atividade manufatureira no pós-guerra, durante o período de liberalização do comércio (2).

Entretanto, esta decadência das antigas cidades industriais também veio acompanhada de um crescimento muito maior da produtividade total dos fatores no país (3). O comércio com o resto do mundo obrigou os EUA a realocar mão-de-obra e capital de atividades onde esses fatores eram mal empregados para atividades onde eles seriam melhor utilizados, e com isso a economia passou a ser capaz de fazer mais com menos em um ritmo 3x maior que no período anterior, onde prevalecia a proteção.

O processo não foi fácil nem indolor. Muita gente perdeu seu emprego e teve que cruzar o país em busca de melhores oportunidades nos novos setores que floresciam em outras localidades. Mas o resultado está aí: a eficiência cresceu mais, e a renda da sociedade como um todo foi beneficiada no longo prazo.

Olhando para o exemplo de Cleveland fica fácil entender como o protecionismo continua a ser utilizado no mundo real apesar de ser condenado em praticamente todas as áreas de conhecimento da economia. Teria custado muito pouco para todos os outros americanos proteger a cidade no pós-guerra. Isto evitaria sua decadência, seu desemprego historicamente alto, sua desvalorização nos imóveis e seu dramático êxodo populacional. O problema é que, na medida em que “cada Cleveland” consegue sua cota de proteção, o processo que permite a reorganização da atividade produtiva americana não acontece, e a produtividade acaba crescendo mais devagar. No longo prazo teríamos uma sociedade mais pobre, inclusive os próprios moradores de Cleveland.

É muito fácil para um leigo perceber as perdas concentradas da integração comercial, mas é extremamente difícil fazer com que ele tenha noção dos ganhos difusos, mesmo que esses ganhos superem em muito as perdas concentradas. Esta situação, inerente ao campo do comércio exterior, é um prato cheio para que os diversos grupos de interesse consigam seu pedacinho de proteção às custas de todo mundo, e o resultado é uma sociedade mais pobre; especialmente se essa sociedade tem uma democracia fraca, incapaz de lidar firmemente com os diversos grupos corporativos.

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