Top 10 maiores milagres econômicos da história: 8 – O Milagre Econômico Espanhol

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Antecedentes (1953-1958)

O Milagre Econômico Espanhol (1959-1974) é sem dúvidas um controverso período da história espanhola, pois surgiu num contexto de radical mudança na dinâmica geopolítica e terminou no ápice da Guerra Fria. Este milagre, portanto, destoa em certo grau dos outros, pois foi usado como ferramenta política para sustentar uma ditadura e uma lógica de governo reprovável em muitos graus e aspectos.

O Milagre Espanhol, apesar de abranger 1959 a 1974, começou bem antes. Pode-se dizer que o começo de tudo foram os chamados “Pactos de Madrid de 1953” (entre Espanha e EUA), pois estes acordos pretendiam reintegrar a economia espanhola na Europa Ocidental, uma vez que a Espanha Franquista passava por dificuldades políticas e econômicas devidas à sua íntima ligação com o Eixo durante a Segunda Guerra Mundial.

O Pacto de Madrid foi um sucesso e cumpriu seu papel, pois conseguiu reintegrar a Espanha no plano político europeu, lançar as bases para um novo corpo político espanhol e também negociar generosos empréstimos para a reconstrução do país.

No ano de 1957 a Espanha sofreu uma mudança no plano de governo, impulsionada pelo Pacto, o que significou uma profunda transformação na ideia do que deveria ser a economia daquele país. Setores nacionalistas que apoiavam uma autarquia perderam força e foram substituídos por nomes menos tradicionalistas e mais abertos à globalização e ao comércio internacional. Foi nesta época (1957-58), inclusive, que certas bases para uma economia sustentável e saudável foram criadas, como a unificação da taxa de câmbio, medidas de controle de gastos governamentais, além é claro da entrada da Espanha no FMI (Fundo Monetário Internacional), no BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) e no Banco Mundial, além do início das negociações para a entrada na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Tais medidas significaram para a comunidade internacional uma mudança de paradigmas, pois a Espanha dava sinais de que não pretendia ignorar os diagnósticos de sua situação econômica.

A visita de Dwight Eisenhower em Torrejón de Ardoz (dez/1959) simbolizou o início da abertura política e econômica espanhola.

Planejando o Milagre (1959)

O Plano de Estabilização de 1959 (ou, como os espanhóis dizem, “El Plan de Estabilización de 1959”), foi um ousado plano político e econômico que estabilizou e liberou (no sentido econômico) a economia espanhola. Diz-se “ousado” pois este plano rompeu com a ideia de nacionalismo autárquico que se sustentava desde a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e com a ideia de governo totalitário que se instaurara depois de 1939 quando Franco pôde fazer uso do poder do Estado Espanhol para perseguir opositores e inimigos políticos.

Anunciava-se no Plano uma série de objetivos, como estabilidade inflacionária e monetária, equilíbrio na balança de pagamentos e normalização do comércio internacional. Para colocar essas metas em prática, as seguintes medidas foram adotadas: aumento da taxa de câmbio de 42 para 60 pesetas por dólar; aumento da taxa de juros para diminuir a quantidade de empréstimos; congelamento de salários; reforma fiscal que tinha como objetivo congelar o crescimento de gastos e aumentar a arrecadação.

Além, claro, da reforma econômica, o Plano tinha por objetivo reformar importantes partes políticas, como a retirada da oligarquia militar do poder, a revisão de onde e como a religião exerceria influência no governo e também uma reforma na já corrupta e clientelista política interna do país.

Mariano Navarro, Ministro da Fazenda, apresentando as principais linhas do seu plano econômico em julho de 1959.

Consequências milagrosas (1959-1975)

Industrialização, aumento massivo no turismo, queda na taxa inflacionária no primeiro quinquênio, êxodo rural, aumento expressivo do PIB nominal e per capita são apenas algumas das transformações econômicas e sociais que a sociedade espanhola passou durante “El Milagro”.

Fonte: Banco Mundial.
Fonte: Instituto Nacional de Estatística (INE).

As mudanças socioeconômicas geradas pelo Milagre Espanhol serviram de base para a sociedade espanhola que vinha de uma profunda crise econômica criada pela Guerra Civil e agravada pela Segunda Guerra Mundial. Não seria exagero nenhum dizer que o povo espanhol não tinha esperanças no futuro de seu próprio país. Havia fome, escassez, destruição e não raramente cemitérios de trabalhadores. Cidades foram reconstruídas praticamente do zero, a indústria passou a ter importância na economia espanhola, o cidadão espanhol médio passou a poder sonhar com um futuro e uma qualidade de vida melhor.

Entretanto, os bons números da economia tiveram também sua reverberação negativa, pois o Regime Franquista acabou usando os excelentes números e resultados do “Desarrolismo” (nome pelo qual o período é conhecido na Espanha) como propaganda político-ideológica, dando assim uma sobrevida ao governo autoritário de Francisco Franco e mascarando seus atos repressivos e seu constante uso excessivo da força.

Nota-se ainda que o fim do Milagre Econômico Espanhol coincide com a própria queda do Franquismo, pois com o término do crescimento milagroso em 1973 (devido à Crise do Petróleo) a insatisfação popular cresceu, gerando manifestações massivas de trabalhadores e estudantes, forçando a Espanha a dar os primeiros passos oficiais na Transicíon Española (transição para a democracia espanhola).

Com isso, entendemos portanto que um período de “milagre econômico” é muito mais do que um bom resultado econômico. Um milagre sempre leva a profundas transformações sociais, políticas e econômicas. Em outras palavras, um milagre sempre lega transformações que fazem jus ao termo “milagre”.       

Fontes

La España de Franco, 1939-1975: Política y Sociedad, pp. 137-168
Cuando Eisenhower visitó a Franco
Crescimento do PIB per vapita espanhol durante o período citado
Índice Inflacionário Espanhol
Componentes do plano de 1959 que deu origem ao milagre

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