O Milagre Econômico Chileno trata-se de um termo cunhado pelo famoso economista Milton Friedman para descrever o período entre 1973 e 1990 no qual o Chile experimentou as consequências de uma série de reformas e práticas elaboradas pelos economistas que trabalharam no governo durante o exercício do general Augusto Pinochet no poder. A seguir, veremos como se sucedeu o tal milagre.
O golpe militar (1973)
O golpe militar chileno de 1973, levado a cabo pela “junta militar” chefiada pelo general Pinochet, foi uma resposta violenta e armada ao governo Salvador Allende.
Eleito nas controversas eleições de 1970, Allende tinha um direcionamento à esquerda e pretendia instaurar um governo socialista marxista em seu país, no que costumava chamar de “socialismo a la chilena”. Dentre as características desse governo estavam a nacionalização das empresas mineradoras de cobre do país, aceleração da reforma agrária e a criação de uma câmara legislativa única através de uma reforma na constituição do país.
No fim da manhã do dia 11 de setembro de 1973, após controlar pontos de poder e tomar posse dos meios de comunicação, a junta militar exigiu que Allende se rendesse e entreguasse o cargo; este, por sua vez, recusou a render-se e permaneceu na sede do governo chileno – Palácio de La Moneda – onde enfrentou os militares até o literal fim de sua vida, quando se suicidou momentos depois de seu último comunicado à nação via uma rádio aliada.
Ao final do dia é declarado “Estado de Sítio” pelo novo governo militar, permitindo assim que Pinochet presidisse o país pelos próximos 17 anos.
Os “Chicago Boys”
Formados em sua maioria na Universidade de Chicago, os Chicago Boys exerceram grande influência no governo de Pinochet, incentivando reformas sociais e econômicas que mais tarde seriam conhecidas como a primeira grande aplicação do neoliberalismo, o Neoliberalismo Chileno.
As reformas propostas por estes e adotadas por Augusto Pinochet incluem: liberalização do mercado, redução do gasto público, privatização de estatais e abertura para capital estrangeiro. Estas propostas casaram muito bem com o objetivo de Augusto Pinochet, pois este tinha por objetivo inicial a aniquilação da influência socialista na sociedade chilena e, consequentemente, em sua forma de se governar.
O plano oficial do governo chileno acabou por se chamar “el ladrillo” e compilava todas as orientações dos Chicago Boys. Entre seus principais pontos, estavam:
Abolição de limitação de importação para findar a política de proteção à indústria nacional;
Incentivo à exportação através da facilitação de crédito para empresas que vendiam ao mercado internacional;
Criação de agências intermediárias entre governo e mercado, simplificação do judiciário (no âmbito comercial) para reduzir custos administrativos e de transação;
Fim do controle de preços e das empresas monopolistas (principalmente as estatais) para criar um ambiente de livre concorrência;
Controle e posterior redução do gasto público, através da revisão de aumento de salários de empregados do estado e do fornecimento de crédito estatal para investidores privados nacionais.
Com estes pontos, o governo chileno pretendia criar um mercado de capitais seguro e livre que independesse de decisões e leis estatais para “funcionar”.
Auge e queda
Como anunciado pelos seus próprios criadores, as consequências iniciais do “ladrillo” foram desanimadoras: o desemprego, que era de 3,1% em junho de 1973, chegou a bater 9,3% em setembro de 1974; o PIB nominal decresceu 12,9% em 1975; já o PIB per capita chegou diminuir ainda mais, 14,3% também em 1975.
Resultados positivos só seriam vistos a partir de 1977, quando a inflação finalmente saiu dos três dígitos e fechou o ano em 92%. O crescimento médio nos anos seguintes até 1982 foi de 8,2%.
Crescimento anual do PIB chileno (1973-1980).Fonte.
O Milagre Chileno torna-se ainda mais impressionante quando comparamos o crescimento anual do PIB chileno com os seus pares mais próximos, os países da América do Sul. Como vemos no gráfico abaixo, o Chile cresceu mais do que a média de seus pares e conseguiu obter elevados índices de crescimento mesmo depois da época do Milagre, mostrando que o esforço e sacrifício chileno durante o início dos anos 70 não foi em vão.
Taxa de crescimento do PIB chileno (laranja) e da América do Sul (azul) entre os anos de 1971 e 2007.Fonte.
Infelizmente, o Milagre Chileno não durou muito tempo, pois com a estagnação e posterior recessão econômica da América Latina o Chile se viu sem saída diante da diminuição de horizontes de expansão de mercado. O país, que havia investido capital humano e financeiro no mercado externo, acabou se tornando excessivamente dependente do seu bom funcionamento, tornando-se um agente desprotegido diante da baixa de preços no mercado global. Tal choque jogou o Chile numa complicada situação econômica e social, onde mais uma vez o povo chileno teria de rever alguns conceitos e esforçar-se para vencer os problemas postos.
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