Trecho retirado de “Microeconomia”, de Robert Pindyck e Daniel L. Rubinfeld.
As emissões de dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa aumentaram drasticamente ao longo do último século à medida que o crescimento econômico veio acompanhado pelo uso intensivo de combustíveis fósseis que, por sua vez, levou ao aumento na concentração atmosférica de GEE (Gases do Efeito Estufa). Mesmo que se estabilizassem nos níveis atuais as emissões de GEE ao redor do mundo, o nível das concentrações atmosféricas desses gases continuaria a crescer ao longo do próximo século. Armazenando o calor solar, essas crescentes concentrações de GEE podem acabar causando um aumento significativo na temperatura média global nos próximos 50 anos e ter consequências ambientais gravíssimas — inundações de áreas de baixa elevação à medida que as calotas de gelo polar forem derretendo, aumento no volume de água do mar, padrões meteorológicos mais extremos, destruição de ecossistemas e redução da produção agrícola. É possível reduzir os níveis atuais de emissão de GEE — os governos, por exemplo, poderiam impor tarifas elevadas sobre o uso da gasolina e outros combustíveis fósseis —, mas essa solução tem um custo muito alto. O problema é que os custos com a redução das emissões de GEE ocorreriam hoje, mas seus benefícios seriam percebidos somente em cerca de 50 anos ou mais. Será que os países industrializados deveriam concordar com a implementação de políticas de redução de emissões de GEE, ou o valor presente descontado dos possíveis benefícios de tais políticas é muito pequeno?
Muitos climatologistas e economistas já realizaram estudos sobre o crescimento das concentrações de GEE e o aumento que isso acarretaria nas temperaturas globais caso nada fosse feito. Embora haja muita incerteza sobre o impacto econômico exato de temperaturas mais altas, existe ao menos um consenso com relação ao fato de o impacto ser significativo; o que mostra que existiria um benefício futuro caso iniciássemos hoje a redução de emissões. O custo das reduções de emissões (ou de processos que impedissem que os níveis atuais aumentassem) também podem ser avaliados, embora, novamente, não exista uma opinião comum com relação aos números específicos.
A tabela abaixo traz as emissões de GEE e a mudança nas temperaturas médias globais para dois cenários distintos. No primeiro, o foco está nos negócios e vemos os níveis de emissões mais que dobrar de valor ao longo do próximo século. A concentração média de GEE sobe e, em 2110, a temperatura média estará cerca de 4 °C acima do nível atual. O prejuízo resultante desse aumento de temperatura é estimado em 1,3% do PIB mundial por ano para cada 1 °C de aumento na temperatura. Espera-se que o GEE mundial suba 2,5% por ano em termos reais a partir do valor de US$ 65 trilhões em 2010, chegando a US$ 768 trilhões em 2110. Assim, os danos com o aquecimento global chegam a (0,01)(4)(768) = US$ 40 trilhões por ano em 2110.
O segundo cenário mostrado na tabela é aquele no qual a concentração de GEE se estabiliza em 550 ppm, de modo que o aumento da temperatura se limita a 2 °C, alcançado em 2060. Para isso, as emissões de GEE precisariam ser reduzidas em 1% ao ano, a partir de 2010. O custo anual dessa política de redução está estimado em 1% do PIB mundial. (Espera-se que esse custo anual aumente, uma vez que também há a previsão de aumento anual do PIB mundial). A tabela também traz o benefício anual líquido trazido pela implementação da política, que é igual aos danos causados pelo primeiro cenário menos o (menor) dano quando as emissões são reduzidas menos o custo da redução.
Faz sentido implementar a política de redução de emissões? Para responder essa pergunta, precisamos calcular o valor presente do fluxo dos benefícios líquidos, que depende criticamente da taxa de desconto. Um estudo realizado no Reino Unido recomenda que a taxa social de desconto seja de 1,3%. Com esse valor, o VPL da política é de US$ 21,3 trilhões, o que mostra que o processo de redução é com certeza vantajoso economicamente.
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