O que é mais importante: acúmulo de capital ou aumento da produtividade?

Decompomos o crescimento do PIB brasileiro entre 1990 e 2017 através dos métodos usuais da contabilidade do crescimento para fazer um exercício interessante: estimar o que teria acontecido em 2 cenários distintos, um onde a taxa de investimento foi maior e outro onde o crescimento da produtividade total dos fatores foi maior. Lembrando que a produtividade total dos fatores é a eficiência econômica e a tecnologia, que permitem usar melhor ou pior os mesmos fatores de produção.

Contrafactual 1:

Tudo o mais se mantém inalterado, mas a taxa de investimento em relação ao PIB fica 10 pontos percentuais maior em cada ano ao que efetivamente foi, girando em torno de 30% do PIB ao longo dos anos. Essa diferença na taxa de investimento provoca um crescimento maior do estoque de capital, que repercute positivamente no crescimento do PIB.

Contrafactual 2:

Tudo o mais se mantém inalterado, mas a produtividade total dos fatores – resíduo não explicado pelas variações da população e do capital – fica 1% maior em cada ano em relação ao que efetivamente foi. O resultado obviamente também é positivo em termos de crescimento.

Segue abaixo o resultado da brincadeira.

Podemos perceber que, apesar de sair na frente, o crescimento baseado em acumulação de capital acaba perdendo o fôlego no meio do caminho e é ultrapassado pelo crescimento baseado em eficiência.

As taxas de poupança e investimento são historicamente baixas no Brasil desde que se tem registro, e isso é um dos entraves ao crescimento da nossa produtividade. Mas existe outro entrave ainda mais grave: a estagnação da produtividade total dos fatores. Nossa economia sofre de vários problemas de eficiência, que derivam, por um lado, do baixo nível de concorrência interna e externa, da burocracia, do péssimo ambiente de negócios e das diversas distorções setoriais e tributárias; e de outro, da baixa integração comercial às cadeias globais de valor, que acaba proibindo os diversos segmentos produtivos internos de se beneficiarem das inovações e tecnologias que vem de fora.

Uma agenda de crescimento econômico no Brasil pode ser muito bem sucedida se resolver primeiramente esses problemas de ordem microeconômica, que por si só permitiriam um enorme ganho de eficiência, produtividade e renda. Elevar a taxa de poupança também seria interessante, mas em um segundo momento, com a casa já arrumada.

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