Entenda o que é a Produtividade Total dos Fatores (PTF)

Desde que Solow produziu seu clássico trabalho sobre crescimento econômico na década de 50, o qual posteriormente lhe rendeu nobel e é base em qualquer manual de crescimento econômico usado nos cursos de graduação e pós-graduação, poucos ousaram tratar o tema sem antes revisitá-lo. Resumidamente, o modelo de Solow nos permite saber quanto do crescimento observado em um país ou região ao longo de um período adveio de incrementos na força de trabalho, no estoque de capital físico (máquinas, instalações, etc) e quanto não pode ser explicado por ambas as coisas.

A parte mais fascinante no trabalho de Solow foi ter demonstrado que, nos EUA, o grosso do crescimento de longo prazo não era explicado nem por capital ou trabalho, sendo residual no modelo, e a partir de então este componente misterioso passou a ser conhecido como resíduo de Solow. Outros nomes foram dados para o resíduo, e o mais conhecido é Produtividade Total dos Fatores (PTF). Um aumento de 1% na PTF de um país implica que a mesma quantidade de trabalhadores, usando o mesmo estoque real de bens de capital, consegue produzir 1% mais do que antes. De lá pra cá, o Modelo de Solow passou a levar em conta também o acúmulo de capital humano (educação dos trabalhadores), que se mostrou empiricamente significativo. Apesar disso, o drive de crescimento de longo prazo continua sendo misterioso: é residual (PTF).

Duas grandes hipóteses foram levantadas para tentar explicar como a mesma quantidade de insumos poderia passar a produzir mais e mais nos países que se desenvolvem:

1) Tecnologia

O acúmulo progressivo de novas ideias faz com que seja possível produzir mais com menos insumos. Ex: todos os materiais necessários para produzir um smartphone já estavam disponíveis na natureza há milhões de anos, o conhecimento embutido na produção de um smartphone e nos bens de capital usados nesta tarefa, não. O crescimento seria explicado pelo acúmulo de conhecimento relacionado aos métodos de produção

2) Eficiência

A maneira como diferentes países organizam suas estruturas de produção importa, e muito. Um ambiente competitivo, que premia o trabalho, a inovação e a competência, atuaria selecionando as melhores firmas de forma contínua, elevando com isso a eficiência média da economia e a produtividade dos fatores. Ex: a União Soviética até tinha tecnologia comparável aos países ocidentais em alguns setores durante a guerra fria, mas era incapaz de transformar isso em incrementos na PTF, pois suas instituições não estimulavam a competição.

De certo modo, ambas as explicações são complementares, e todo mundo percebeu isso desde o início. A disputa intelectual na academia foi para explicar a importância relativa de cada coisa. Os modelos de mudança tecnológica endógena vieram primeiro e tiveram seus méritos, mas não conseguiram dar conta dos dados. Os trabalhos da vertente institucionalista, que ressaltaram a importância das regras formais e informais que condicionam nosso comportamento em sociedade, e que posteriormente passaram a olhar também as diferenças de produtividade ao nível da firma, se consolidaram na década de 90, e são o estado da arte em matéria de crescimento até hoje.

O artigo cuja imagem abaixo foi tirada trabalha exatamente as hipóteses levantadas anteriormente: decompõe a PTF entre o que é eficiência e o que é tecnologia embutida nos bens de capital. O resultado, para infelicidade dos que são fãs dos modelos de mudança tecnológica endógena, é que a maior distância entre os países e a fronteira (EUA) não está na tecnologia dos bens de capital (T), mas na eficiência alocativa com que eles são usados (E). Em 1995, as máquinas usadas pelas firmas brasileiras eram um pouco piores que as americanas, mas pior mesmo era nossa eficiência de usar estas máquinas. Isso tem muito a ver com o que economistas como Marcos Lisboa falam sobre “má alocação de capital”, de manter firmas ineficientes operando através de distorções regulatórias e tributárias, do emaranhado de regras que tornam a vida de todo mundo muito mais confusa (mesmo as empresas com boa tecnologia), e com toda a extensa literatura ao nível da firma mencionada.

Em resumo: a resposta mais eloquente para a razão da pobreza brasileira está no nosso ambiente institucional, que ao invés de induzir a competição e a inovação, induz o rent-seeking e o comportamento oportunista, prejudicando o crescimento da produtividade.

Aqui o artigo da imagem abaixo e aqui um artigo do Banco Mundial que apresenta muito da literatura ao nível da firma disponível sobre o Brasil.

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