Produtividade é tudo

Tem uma frase memorável do economista Robert Lucas (Nobel em 1995) que é mais ou menos assim:

“As consequências para o bem-estar humano envolvidas em questões como essas [sobre crescimento econômico] são simplesmente assombrosas: uma vez que se começa a pensar sobre elas, é difícil pensar em qualquer outra coisa.”

A frase é impactante porque é extremamente verdadeira. Algumas décadas atrás, a hora de trabalho do coreano e do taiwanês produzia menos do que a brasileira. Em economês, diríamos que a produtividade do trabalho do Brasil era maior do que a desses países. Hoje, a produtividade de Coreia é 2x e de Taiwan é 2,6x maior que a nossa. Ambos convergiram para o padrão de renda e bem-estar dos países ricos, enquanto a gente continua sendo um país subdesenvolvido.

Fonte: Penn World Table 9.1.

Quando você acorda para o fato de que o seu país é incapaz de produzir mais e melhor de forma sustentada, enquanto outros o fazem, esse assunto fica lhe remoendo dia e noite. Não veremos crescimento econômico e ganhos de salário real consistentes sem resolver o problema da produtividade. Essa é uma barreira permanente entre o padrão de bem-estar que temos e o que queremos (dos países desenvolvidos).

Em uma sociedade saudável, discutir como aumentar a produtividade seria a agenda do dia, todos os dias da semana, todas as semanas do mês, todos os meses do ano. No Brasil, entretanto, tocar no assunto já ofende. As pessoas estão tão por fora do que está acontecendo que, ao ouvir que a produtividade brasileira é baixa e não cresce, acham que estão sendo chamadas de preguiçosas. Assim fica impossível sair do buraco.

Crescimento econômico é um tema que ainda está avançando na literatura, mas nós temos muita coisa bem estabelecida. Por exemplo, nós sabemos que:

1) Quanto melhor o ambiente de negócios, maior a produtividade.

Nosso ambiente de negócios é horroroso. Estamos na posição 124 no ranking Doing Business do Banco Mundial, atrás de países como Senegal e Uganda.

2) Quanto maior a escolaridade e o aprendizado, maior a produtividade.

Nossa população é a menos escolarizada da América do Sul, perdendo pra países bem pobres como Zimbábue, Indonésia e Filipinas. Estamos também perto da lanterna do PISA.

3) Quanto maior a taxa de poupança, maior a produtividade no longo-prazo.

Nossa taxa de poupança está consistentemente bem abaixo da média do mundo. O mundo poupa 25% do PIB, nós, nos melhores períodos, rodamos por volta de 18% do PIB.

4) Quanto maior a integração comercial, maior a produtividade.

O Brasil é o país do G-20 com as maiores barreiras tarifárias e um dos países do mundo que menos comercializa como % do PIB.

Enquanto não tivermos esses quatro itens minimamente em convergência com o mundo desenvolvido continuaremos sendo um país medíocre.

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