A real função do livre comércio é quebrar nossos setores e empresas menos eficientes, de modo a forçar que o capital e mão-de-obra neles empregados sejam realocados para os demais setores, em geral mais eficientes, melhorando a eficiência média da economia. Apesar de os benefícios serem evidentes, é óbvio que isso também tem um custo no curto prazo, o custo de transição de um estado a outro. Tanto a mão-de-obra quanto o capital não vão sumir em uma empresa e aparecer em outra, e o processo de fazer a transição envolve algum esforço da sociedade para ser executado. É um ciclo contínuo de destruição criadora.
Quando falamos de um país altamente fechado ao comércio internacional, com diversos setores ineficientes, que quebrariam imediatamente ao enfrentar a concorrência externa, uma abertura rápida demais pode impor um custo de transição tão alto que dificilmente seria mantida por tempo suficiente até começar a render bons frutos e se consolidar. Sociedades democráticas não costumam ter a resiliência necessária pra suportar algo do tipo, e talvez a única exceção honrosa seja a Inglaterra da década de 80. É por isso que uma abertura ao comércio exterior no caso brasileiro precisa ser gradual, mas contínua.
Para amenizar os custos associados à transição, é importante ter mercados de trabalho e capital flexíveis. Quanto mais fácil e rápido for contratar e demitir, menos custosa e traumática será a transição de trabalhadores dos setores decadentes para os setores florescentes. Quanto mais fácil e rápido for o processo de decretar falência e vender os ativos de uma empresa, mais do seu capital, que se deprecia com o tempo, poderá ser reaproveitado em outros setores da economia, e assim por diante.
É por isso que, no caso brasileiro, uma agenda de abertura deve ser acompanhada de uma série de reformas microeconômicas que melhorem o nosso ambiente de negócios.
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