A importância dos acordos comerciais para o crescimento

Quanto menor e mais pobre é um país, mais ele ganha, em termos de desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico, ao se envolver em acordos de livre-comércio com parceiros maiores. É o que indica o modelo de mudança tecnológica endógena do Paul Romer, que foi laureado com o Nobel em 2018.

A inovação é um custo fixo, ou seja, uma vez que o projeto inovador está pronto, ele pode ser utilizado a custo zero infinitas vezes pela empresa inovadora. Disto podemos intuir que o custo médio da inovação cai com a escala de produção. Por isso, mercados maiores comportam mais investimento em pesquisa e desenvolvimento, já que neles há maior possibilidade de se apropriar, pelo lado do produtor, dos benefícios que a inovação gera.

Exemplo simples e exagerado:

Imagine se a Apple fosse uma empresa paraguaia que atendesse exclusivamente o mercado do Paraguai. O enorme custo de desenvolvimento de um novo aparelho, dividido pelo número de vendas esperadas no Paraguai, tornaria este empreendimento totalmente inviável. Só vale a pena bancar os custos de P&D em um setor desta complexidade caso ele atenda a um grande mercado consumidor; e é isso que o comércio internacional proporciona, especialmente para os países menores.

Se os EUA e o Brasil fazem um acordo de livre-comércio, o mercado de ambos os países cresce. Mas enquanto o mercado dos EUA ganha apenas mais uma Califórnia, o mercado do Brasil ganha vários outros Brasis. A queda no custo médio relacionado à inovação para as empresas que sobrevivem é várias vezes maior aqui do que lá. O benefício, medido pelo aumento da atratividade do investimento em desenvolvimento tecnológico, seria muito mais relevante para nós do que para eles.

Essa é justamente a tática dos asiáticos. O Vietnã conseguiu, ao longo dos últimos 20 anos, acordos de livre-comércio com os EUA, Japão, China, Índia, ASEAN e, recentemente, União Europeia. O país, apesar de ser pequeno e ainda pouco relevante no PIB mundial, está interligado com os maiores mercados do mundo, tornando-se um polo propício para a inovação. O Mercosul deveria fazer o mesmo.

Leia também:
Para exportar mais é necessário importar mais
Efeitos econômicos da abertura comercial
Você está preparado para viver em um mundo em que a Índia cresce mais que a China?
Produtividade é tudo

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não ficará público