O grande problema econômico enfrentado pela China

No eixo y do gráfico abaixo está a produtividade do capital, isto é, o PIB do país dividido pelo seu estoque de capital físico (máquinas, pontes, portos, fábricas, etc). No eixo x, o quanto o país está próximo da fronteira do mundo em termos de renda, os EUA. Os pontos da trajetória estão ligados por uma linha que vai de 1970 até 2017 para os dois países analisados.

Duas coisas ficam óbvias olhando para o gráfico: 1) A produtividade do capital tende a cair quando o país se aproxima do nível de renda americano; 2) A produtividade do capital na China é muito baixa para o nível de renda deles quando comparada à dos sul coreanos. O que isso significa exatamente? Que o crescimento do país está encontrando limites no acúmulo de capital físico muito antes do que foi verificado na Coréia do Sul.

Vamos entender: quando a produtividade do capital é baixa, o capital acumulado pelo país é grande em relação ao seu volume de produção anual, o PIB. Como este capital se deprecia, isso também implica na necessidade de uma grande taxa de investimento apenas para pagar a manutenção do capital existente, e portanto numa taxa de investimento ainda maior para que o país possa acumular novo capital. Quanto mais baixa for a produtividade do capital, menos o país tem potencial de crescer com a mesma taxa de investimento, e portanto precisará aumentá-la para manter o ritmo anterior.

O problema é que o que o país pode investir está limitado pelo quanto as pessoas precisam – e querem – consumir. Para efeito de comparação, a taxa investimento já está chegando a 50% do PIB na China, algo surreal. A outra metade é consumo das famílias e gastos do governo. Aumentar ainda mais a taxa de investimento implicaria em espremer ainda mais o consumo das famílias ou os gastos do governo, o que obviamente não dá pra ser feito indefinidamente.

Hoje a China tem uma produtividade do trabalho um pouco maior que a brasileira, mas um estoque de capital por trabalhador consideravelmente maior, tanto em termos relativos ao PIB quanto absolutos. Isso nos alerta para o fato de que a economia chinesa sofre de graves problemas de eficiência, provavelmente ainda mais graves que os nossos, e só tem se mantido crescendo em alta velocidade por ter partido de um nível muito baixo e por contar com a benção de ter uma população disposta a poupar metade do PIB. Os problemas de eficiência derivam, primordialmente, da imensa quantidade de empresas ineficientes que sobrevivem às custas de recursos públicos ou proteção do governo, e puxam a média de produtividade para baixo. A mera realocação de capital e trabalho das firmas menos eficientes para as mais eficientes dentro da própria China elevaria a produtividade média na manufatura chinesa em até 50%.

Vale lembrar que a China se encontra no meio de uma mudança estrutural que países como Brasil já fizeram no passado. A população rural ainda é expressiva e muita gente não foi realocada das atividades tradicionais, de subsistência, para as atividades modernas. Este fator por si só é capaz de gerar um grande ganho de eficiência que tende aumentar a produtividade do capital ao elevar o PIB de forma exógena, como foi o nosso caso nas décadas de 50 e 60. Sem esse elemento não recorrente, a produtividade do capital seria ainda mais baixa na China, e é provável que a economia chinesa já tivesse estagnado.

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