Como as expectativas de inflação afetam a inflação?

Para afetar variáveis como inflação e desvio do produto, o Banco Central não lida apenas com movimentos de oferta e demanda agregada, mas também com as expectativas dos agentes. As pessoas acham que a inflação vai aumentar ou diminuir? Que diferença faz no resultado final?

A variação das expectativas de inflação pressiona a inflação na mesma direção por 3 canais principais:

1) Formação de salários e preços

Muitos preços são negociados em contrato entre intervalos regulares de tempo, como ocorre com os salários na maioria dos países. Então, para que uma das partes não seja prejudicada em termos reais até o fim do contrato, ela acaba levando em conta o aumento esperado dos preços no momento da negociação. Se todos acham que a inflação vai aumentar, os contratos firmados começam a incorporar este aumento no presente, pressionando os preços pelo lado da oferta, e vice-versa.

2) Variação no juro real esperado

Se a expectativa de inflação aumenta, o juro real esperado (ex ante) cai para os títulos pré-fixados. Isso torna aparentemente menos vantajoso comprar títulos públicos no presente e mais vantajoso pedir crédito ao Banco Central. Se a autoridade monetária não reagir, o simples aumento das expectativas de inflação irá pressionar a base monetária, aumentando, ceteris paribus, a liquidez real e o consumo. Isso pressiona a inflação pelo lado da demanda.

3) Variação na demanda por moeda

A moeda é um ativo que não rende juro nem correção monetária. Quanto maior a taxa de inflação, mais custoso se torna reter moeda em espécie, e é justamente por isso que sempre, durante um processo hiperinflacionário, o estoque de moeda cai muito em relação ao PIB nominal do país. Se a expectativa de inflação aumenta, cai a demanda por encaixes, aumentando a velocidade de circulação da moeda. Isso também pressiona a inflação pelo lado da demanda.

Em todos os casos, caso o Banco Central seja leniente e deixe que a expectativa de inflação se concretize, ela se torna mais forte e difícil de reverter, especialmente quando começam a surgir mecanismos de indexação formais. As expectativas são peça central na dinâmica da inflação, e quanto um Banco Central é capaz de afetá-las depende de sua credibilidade perante o público. Se ele (BC) é conhecido por não cumprir sua palavra, o sacrifício para ancorar a inflação e as expectativas de inflação será muito mais doloroso em termos de aumento do juro real e do desemprego no curto prazo. O juro real alto acabará exigindo também uma política fiscal mais austera para não descontrolar a dívida pública, tornando ainda mais complicada a vida do Banco Central com má reputação.

Para dar mais credibilidade à autoridade monetária, vários países vem migrando para o modelo de Banco Central independente com mandatos não-coincidentes com o do executivo. Esta é uma forma de garantir que a atuação da instituição esteja imune aos ciclos políticos, tal como qualquer órgão estatal. Assim é possível ancorar as expectativas de inflação com mais facilidade, tornando a política monetária mais eficiente e socialmente eficaz.

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